De droga de discoteca a curadora de depressões: a quetamina pode ajudar a eliminar os pensamentos suicidas

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Autores do estudo apontam as diferenças entre os pacientes com doença bipolar e depressões profundas após a toma da substância, que deverá ocorrer com supervisão médica.

Outrora vista como uma droga de discotecas, a quetamina pode, afinal, servir para combater pensamentos suicidas. De acordo com um novo estudo científico, entre 156 adultos hospitalizados com este tipo de diagnóstico, aos que foram administradas duas doses da substância as ideias desapareceram dentro de dias. No terceiro dia, 63% estavam em total remissão, comparado com apenas 32% dos pacientes a que foi dado placebo, juntamente com cuidados de saúde básicos.

O estudo é o último a analisar os efeitos mentais de quetamina. A substância foi mesmo aprovada nos Estados Unidos há algumas décadas como anestésico, tendo-se tornado popular enquanto ‘droga de festa’, com a alcunha de “special K”, devido às alterações que causa.

Como tal, os especialistas sempre estiveram cientes do potencial da quetamina, em doses baixas e em condições controladas, para tratar sintomas psiquiátricos. Ao longo dos últimos anos, a substância afirmou-se mesmo como uma “droga maravilha” para os indivíduos com depressões severas que não apresentam melhoras com tratamentos standart. Para essas pessoas, a quetamina assume-se como um alívio rádio, mesmo num único dia. De acordo com os especialistas, estas melhorias podem ser especialmente importantes em pessoas que correm o risco de se magoar.

As mais recentes conclusões evidenciam que a quetamina pode ajudar estes pacientes a “atravessar crises”, descreveu Paul Kim, um professor assistente de psicoterapia e ciências comportamentais na Universidade de Johns Hopkins. No entanto, há mais vertentes a explorar, com os pacientes a precisarem de se acompanhamento médico, o que pode passar por alterar ou substituir qualquer tipo de antidepressivos que possam estar a ser administrados. “À vezes, descobre-se que a dosagem não é efetiva em termos terapêuticos.”

Apesar de a quetamina entrar em ação rapidamente, a sua ingestão não é fácil. Terá de ser consumida por infusão, com supervisão médica, em grande parte devido ao seu efeito dissociativo . De acordo com o site Webmd, a quetamina pode alterar a percepção da realidade, tais como alucinações. Pode também registar-se um pico da pressão sanguínea depois da sua ingestão.

Como é que a substância ajuda as pessoas num profundo grau de angústia é algo que os cientistas ainda desconhecem. Mas sabem que a quetamina tem alvos cerebrais que divergem dos antidepressivos tradicionais, o que pressupõe um reforço da atividade numa substância química chamada glutamate, a qual ajuda as células do cérebro a comunicar umas com as outras.

Num novo estudo, realizado em França, os investigadores recrutaram pacientes que foram voluntariamente internados com ideias suicidas. Todos receberam cuidados básicos, nomeadamente antidepressivos, terapia e puderam encontrar-se com as suas famílias. Adicionalmente, a 73, escolhidos de forma aleatória, foram administradas duas doses de quetamina, por via de infusão, com um intervalo de 24 horas. Os restantes pacientes receberam substâncias placebo.

Ao terceiro dia, os pacientes que receberam quetamina apresentavam níveis de regressão duas vezes mais elevados, o que indicava que os seus pensamentos suicida tinham sido resolvidos. Numa análise mais tardia, seis semanas depois, as diferenças eram menos: 69.5% dos pacientes que receberam quetamina estavam em remissão, comparativamente os 56% dos que receberam placebo.

A experiência teve, ainda assim, um resultado inesperado: os resultados precoces dos doentes que ingeriram quetamina foi mais visível nos que tinham doença bipolar, em vez dos que apresentavam um grande quadro de depressão. Tal é surpreendente, uma vez que a substância é frequentemente dada com depressões profundas e não com doenças bipolares, notou Riccardo De Giorgi, responsável por um editorial no estudo.

“Isto pode sugerir que os mecanismos biológicos e psicológicos por trás das ideias suicidas podem diferir nas duas doenças – uma descoberta que pode ser útil para pesquisas futuras”, explicou o especialista.

ZAP //

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1 Comment

  1. Já é rotina em Portugal!
    No SNS na psiquiatria do hospital Beatriz Ângelo, e na clínica S. João de Deus em Lisboa!

    Nais uma vez Zap a ignorar o bom que temos em Portugal…

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