Comitiva do PSD, composta por alguns adversários internos, mostra-se, perante as mostras de apoio, confiante numa vitória mais vasta do que algumas sondagens sugerem.
Rui Rio é um líder imprevisível e a arruada do PSD, ontem, na Rua de Santa Catarina, voltou a prová-lo. Quando toda a comitiva o esperava, acompanhada de bombos, junto à Capela das Almas, para dar início à tradicional arruada social-democrata, os seus mais próximos pareciam com dúvidas sobre a localização de Rio e não foi até uma chamada de Florbela Guedes — assessora e fiel colaboradora — que ficaram a saber que este já se encontrava a meio do destino e os aguardava perto de uma loja com acesso a uma varanda onde acabaria por discursar.
A ordem foi então para descer a rua, com nomes como José Pedro Aguiar Branco, André Coelho Lima, Salvador Malheiro, Vladimiro Feliz, José Silvano, Paulo Rangel e a cabeça de lista pelo distrito, Sofia Matos, a liderar o grupo. A presença dos antigos adversários internos marca claramente uma inversão face aos tempos recentes do partido, em que muitos colocaram em causa a liderança de Rio — desafiando-a —, mas as perspetivas de uma possível vitória fazem com que tudo isso seja um pouco mais fácil de esquecer.
“Tem sido uma coisa impressionante, e esta mobilização toda admito que possa significar uma surpresa: uma vitória mais ampla do que se pode estar à espera”, afirmou Luís Filipe Menezes. A mesma linha de raciocínio é seguida por Paul Rangel. “Só há uma alternativa para derrotar António Costa e o PS, que estão esgotados. Estou muito convicto de que o PSD vai sair vitorioso e com mais vantagem do que a que tem sido falada”.
Já na varanda, Rio mostrou-se fascinado com o que via de cima. “Já fiz muitas campanhas eleitorais no país e aqui no Porto, posso estar enganado, mas não me lembro de ver uma moldura humana como esta que temos aqui hoje, não me lembro de ver tantas pessoas aqui”, disse a uma plateia em apoteose. Mesmo assim, não se alongou no discurso e até nas críticas que pretendia fazer aos socialistas. Primeiro, afirmou que o PS “não merece ganhar” porque “fez uma campanha com base na mentira” e garantiu ser a única alternativa viável para os que querem tirar António Costa do poder.
“Os que querem mudança no país têm de votar no PSD, porque votar noutro partido qualquer é votar na continuidade de António Costa e da geringonça […] O PS inventa que queremos privatizar o SNS e não é verdade, inventa que não queremos aumentar o salário mínimo e não é verdade, inventa que estamos ligados à extrema-direita e não é verdade. Fez uma campanha com base na mentira e merece perder.” Finalmente, evocou o seu passado como autarca para lembrar que “só uma vez na história um presidente da câmara do Porto chegou a primeiro-ministro“. “Foi em 1909. No domingo, 113 anos depois, um presidente da câmara do Porto pode chegar novamente a primeiro-ministro”, sugeriu.
A arruada do PSD teve ainda direito a uma visita talvez inesperada. Também a comitiva da Iniciativa Liberal que tinha percorrido a rua de Santa Catarina minutos antes atravessou a onda laranja, com ordens de Salvador Malheiro para que os apoiantes sociais-democratas deixassem passar os liberais.
O resto do dia de Rui Rio e da comitiva do PSD não teve agenda, com o partido a tentar assegurar que as imagens do manifesto apoio recebido no Porto ecoavam nos noticiários das 20h, os quais, já se sabia, iriam revelar as últimas grandes sondagens antes das eleições de domingo.