Perante os resultados obtidos, investigadores sugerem que os horários escolares sejam revistos, mesmo num contexto de aulas presenciais.
As consequências negativas da pandemia nas crianças e nos adolescentes são conhecidas e estão bem documentadas: a ausência de contacto social, nomeadamente em contexto escolar, a sujeição a contextos familiares tóxicos e violentos, e o crescimento de níveis de ansiedade e distúrbios de saúde mental.
No entanto, um grupo de investigadores suíços parece ter encontrado um aspeto positivo neste contexto complexo que tem dominado o mundo ao longo dos últimos quase dois anos.
Através de um inquérito online feito a mais de 3600 estudantes da região de Zurique e que participaram nas aulas através das plataformas digitais entre março e junho – durante a primeira vaga da pandemia -, descobriram que estes estavam a dormir mais horas do que no período que antecedeu o confinamento, o que teve consequências ao nível dos seus níveis de bem-estar.
“Os estudantes tiveram mais cerca de 75 minutos de sono por dia durante o confinamento”, resumiu Oskar Jenni, da Universidade de Zurique, um dos especialistas envolvidos na investigação.
“Ao mesmo tempo, a qualidade de vida relacionada com os indicadores de saúde melhoraram significativamente e o consumo de álcool e de cafeína decresceu“, continuou.
Na pesquisa, os investigadores focaram-se nos padrões de sono dos jovens, assim como outras questões relacionadas com a saúde e as suas características comportamentais.
Os resultados foram posteriormente comparados com os obtidos numa outra recolha de dados, em 2017, ou seja, muito antes da pandemia começar.
As conclusões evidenciam que durante a pandemia, tendo em consideração o período de referência de uma semana, os jovens com aulas à distância acordavam, em média, 90 minutos mais tarde – apesar de também se deitarem mais tarde 15 minutos, o que resulta na referida diferença de 75 minutos.
Simultaneamente, muitos dos indicadores relacionados com a saúde e com as características comportamentais melhoraram, o que sugere que a dose extra de 75 minutos de sono diários ajudou os jovens a sentir-se melhor, apesar dos impactos negativos do isolamento.
“Valores mais elevados foram evidenciados pelo grupo em confinamento relativamente à sensação de saúde e bem-estar, à energia, ao ter tempo suficiente para eles próprios e para as coisas que gostam de fazer nos seus tempos livres“, pode ler-se no artigo científico que descreve as conclusões.
Contrariamente, estes jovens também manifestaram maiores níveis de solidão, tristeza e menor diversão no contacto com os amigos.
Segundo Oskar Jenni, apesar de o isolamento ter efeitos negativos notórios nos jovens e adolescentes, “a quantidade de sono extra de que este grupo beneficiou acabou por trazer benefícios que tornaram os dias em casa mais suportáveis“.
“As nossas conclusões indicam claramente a vantagem de começar a escola mais tarde, no período da manhã, para que os jovens possam ter períodos de sono mais longos”, descreveu a investigadora.
Esta é uma opção é há muito reivindicada pelos cientistas, que se apoiam em estudos académicos para justificar a necessidade de adiar por algumas horas o início das aulas, para que os jovens consigam dormir mais horas, algo que interpretam como uma vantagem ao nível da atenção e capacidade de concentração no estudo.
“Os resultados sugerem que o fecho das escolas permitiu aos estudantes alinhar melhor os seus horários de sono com a fase de sono tardio que muitos adolescentes têm”, avançam os investigadores.
“De maior importância, para o nosso conhecimento, este estudo fornece as primeiras provas científicas com as associações benéficas relacionadas com o sono de encerramentos de escolas com a saúde dos adolescentes”.