Depois dos dinossauros, pode ter sido a evolução das plantas com flor a impulsionar a explosão de diversidade de vida na Terra, de acordo com um novo estudo.
Segundo a Science Alert, a maioria das plantas que usamos agora para comer, beber, vestir e construir são as que têm flor. Chamam-se angiospermas e caracterizam-se pela presença de flores ou frutos.
“Mais de um milhão de espécies de insetos modernos devem o seu sustento a angiospermas, como é o exemplo dos polinizadores, abelhas e vespas, comedores de folhas, besouros, gafanhotos ou borboletas, que se alimentam de néctar”, afirma o Peter Wilf, paleobotânico da Universidade Estadual da Pensilvânia. “E estes insetos são comidos por aranhas, lagartos, aves, e mamíferos”, acrescenta.
Há milhões de anos atrás, a maioria das espécies na Terra vivia nos oceanos, o que faz sentido dado que mais de 70% da superfície do nosso planeta era coberta por água. Hoje em dia, a grande parte das espécies encontra-se em terra.
No estudo publicado em outubro, o paleobotânico Michael Benton e outros investigadores da Universidade de Bristol argumentam que esta mudança, que se pensa ter ocorrido há cerca de 100 milhões de anos, foi impulsionada por plantas com flor, porque coincide com a evolução biológica das angiospermas.
Muitas das famílias de plantas que hoje conhecemos surgiram de acordo com linhas de tempo moleculares, o que incluiu um aumento do tamanho dos frutos e sementes, motor da evolução de mais animais que se alimentam de frutos.
“As plantas com flor podem já existir há algum tempo, mas começaram a aparecer mais frequentemente no período Cretáceo, nos últimos 70 milhões de anos da era dos dinossauros”, sublinha Benton.
“Mas parece que os dinossauros não escolheram comê-los. No entanto, foi só depois dos dinossauros terem desaparecido que as angiospermas realmente descolaram em termos evolutivos”, acrescenta o paleobotânico.
A equipa chamou a este evento a Revolução Terrestre de Angiospermas, e acredita que a tenhamos negligenciado anteriormente, por ter sido interrompida pelo evento de extinção dos dinossauros.
O impacto do asteroide extinguiu os dinossauros e cerca de 70 por cento das espécies marinhas. Mas quando a vida recuperou, foram os insetos, as aves, os mamíferos e os répteis em terra que “venceram”.
“É mesmo possível que a remoção dos dinossauros tenha sido o gatilho destes acontecimentos”, realça Peter Wilf, da Universidade Estatal da Pensilvânia.
Estas evolução das plantas com flor parece ter feito com que a vida em terra se tenha diversificado de quatro formas distintas, sugere a equipa.
Em primeiro lugar, à medida que as plantas com flor se espalhavam por diferentes habitats, a evolução transformava-as numa variedade de novas formas.
Estas novas variedades de estruturas, produtos químicos e estratégias reprodutivas criaram novas oportunidades para as outras formas de vida evoluírem à sua volta.
“As angiospermas tornaram-se elas próprias extremamente diversas, mas também criaram enormes números de nichos para outras plantas e animais, pelo que se obtêm mais dezenas espécies em cada hectare de superfície terrestre do que se as angiospermas não se tivessem estabelecido quando se estabeleceram”, diz Benton.
Por sua vez, o aumento da produtividade significa que estas plantas estavam a produzir e a trocar mais energia.
“Elas também podem capturar muito mais energia do Sol do que coníferas e seus parentes, e esta energia extra passa por todo o ecossistema“, afirma Hervé Sauquet, biólogo do Jardim Botânico Real de Sydney.
As novas fontes de alimentos que daí resultaram, desde vegetação até aos tratamentos de alta energia para os polinizadores, criaram muitas relações mutualistas entre estas plantas e animais, desencadeando uma cascata de outras novas oportunidades para a biodiversidade até aos predadores de topo.
“As angiospermas também impulsionam a evolução dos animais que os polinizam, principalmente insetos, e podem construir estruturas florestais complexas que são casas para milhares de espécies”, explica Sauquet.
Finalmente, à medida que os invasores floridos aumentavam em abundância, começaram também a influenciar o seu clima local.
Taxas de transpiração mais elevadas significam que as plantas extraem mais água do solo e a passam para a atmosfera, alterando o clima e os ciclos da água.
Isto permitiu que as angiospermas aumentassem a extensão dos ambientes tropicais húmidos e, portanto, expandir os habitats adequados de muitas outras espécies, desde rãs a fungos e mesmo para as outras plantas que as precederam como fetos. Foi uma situação vantajosa para ambas as partes.
“Por outro lado, as florestas de coníferas, baseadas nas família dos pinheiros, por exemplo, contêm menos espécies de outras plantas ou animais, e provavelmente nunca foram tão ricas em espécies”, observa Sauquet.
A equipa de investigação explica que as diferenças na genética permitiram que as angiospermas diversificassem muito mais do que outras plantas.
Apesar das duplicações de genomas passadas, uma característica comum em todas as plantas que pode resultar em mais cromossomas, elas têm genomas relativamente pequenos, com menos cromossomas.
Os mecanismos que reduzem os seus genomas podem ser aquilo que permite às plantas com flor criar novos genomas tão facilmente.
As angiospermas mostram uma reinvenção mais elevada e maior flexibilidade de traços, ou seja, a capacidade de evoluir fisiologicamente rapidamente, do que as gimnospermas como as coníferas, explicam os investigadores.
Isto pode ter permitido às plantas com flor dar início a todo um novo rumo à vida na Terra. Em última análise, tornou-se o nosso rumo.