Cientistas sequenciaram o genoma completo da mosca comum e afirmam que as descobertas podem ajudar a descobrir novos tratamentos para doenças que afligem os humanos.
Uma mosca pode ter cerca de cem doenças, incluindo problemas que levam à cegueira.
Ao comparar o DNA da mosca comum com o da mosca da fruta, cientistas da Universidade de Cornell, nos EUA, detalharam os genes que fazem com que estes insectos sejam imunes aos agentes patogénicos – os organismos causadores de doenças, como bactérias, vírus e fungo – a que estão expostos.
Os cientistas descobriram também a parte do código genético que ajuda a mosca a dissolver dejectos, como fezes.
“Informações a respeito destes genes podem ajudar-nos a processar os dejectos humanos e a melhorar o meio ambiente”, defendem Jeff Scott e os colegas, no estudo publicado no Genome Biology.
No meio do lixo
As moscas comuns são “perfeitas” para a transmissão de doenças. Elas têm contacto regular com carcaças, com lixo e com outros objectos sujos que contêm bactérias, vírus e parasitas.
Gostam dos mesmos alimentos que nós e, como são muito eficientes a escapar das nossas tentativas de as matar, têm sempre oportunidades de pousar tanto na nossa comida como no nosso corpo.
Acredita-se também que elas carreguem tantos patogénios porque se alimentam de substâncias líquidas ou semi-líquidas – muitas vezes fezes.
Como estão constantemente a alimentar-se, elas precisam de eliminar seus próprios dejectos (e os patogénios que carregam) sempre que pousam por mais de alguns segundos.
Mas, ao contrário do que acontece com os humanos, este estilo de vida pouco higiénico não faz mal à saúde das moscas.
Scott e sua equipa quiseram descobrir porquê – e como utilizar essa capacidade em benefício da raça humana.
A equipa sequenciou os genomas de seis moscas fêmeas comuns e compararam-nos com o da mosca da fruta, a Drosophila melanogaster, para identificar que partes do DNA são exclusivos da mosca comum e poderiam ser estudados mais a fundo.
A equipa descobriu que a mosca comum tinha muito mais genes imunes do que a drosófila, e que esses genes eram também bastante mais diversificados – possivelmente para oferecer ao insecto protecção contra os diversos patogénios que transporta.
Proliferação de doenças
O professor David Conway, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, explica que “apesar de acharmos que as moscas são apenas um incómodo, elas podem transmitir diversas bactérias aos humanos e contribuir significativamente para a proliferação de doenças em comunidades pobres onde as condições sanitárias são limitadas”.
“É óptimo ver essa análise do sequenciamento genómico, em especial a sua comparação com o genoma da mosca da fruta, o mais estudado até agora”, acrescenta Conway.
“Muitas outras moscas transmitem importantes doenças humanas, e espero que este trabalho estimule mais análises genómicas e comparações entre eles”.
Por exemplo o genoma da mosca tsé-tsé, que transmite a doença do sono em África, foi publicado alguns meses atrás. Apesar de se alimentar de sangue, a tsé-tsé tem parentesco mais próximo com a mosca comum do que com mosquitos.
“Há assim muitos outros vectores de doenças negligenciadas que poderiam ser melhor compreendidos se tivéssemos mais comparações entre seus sequenciamentos genéticos”, conclui Conway.
ZAP / BBC