Ainda há empresas a aguardar o pagamento da segunda tranche do Apoiar Rendas. A AHRESP insiste em manter apoios enquanto estiverem em vigor medidas restritivas.
Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) relembrou a necessidade de manter os apoios às empresas, enquanto estiverem em vigor medidas que restringem a atividade.
“O Apoiar Rendas foi um apoio importante, mas foi anunciado a 10 de dezembro de 2020 e estamos em 2022 e a segunda tranche ainda não entrou nas empresas todas“, frisou a dirigente, em declarações ao ECO.
Perante estes atrasos, o Governo introduziu mais uma alteração ao Programa Apoiar em novembro para dispensar, “em casos devidamente fundamentos”, a celebração do protocolo de troca de informações entre a Agência para o Desenvolvimento e Coesão (AS&C) e a Autoridade Tributária (AT), de modo a flexibilizar o processo.
Estavam cerca de “4.000 projetos pendentes, porque não tinha sido possível validar o valor das rendas junto da AT”, afirmou Pedro Siza Vieira.
O Apoiar Rendas arrancou em março de 2021 para empresas com quebras de faturação superiores a 25%.
O Estado assegurava uma parte da renda, dependendo das perdas, através de um apoio que podia ir até aos 2.000 euros mensais, por cada estabelecimento.
Mas este não é o único atraso. Quanto aos apoios a bares e discotecas, que começaram a ser pagos quinta-feira com os novos valores, é “mais um exemplo de medidas anunciadas que só são disponibilizadas muito mais tarde às empresas”.
“Tem sido sistemático”, desabafa a responsável, recordando ainda as alterações sistemáticas que os vários apoios foram sofrendo.
A AHRESP não questiona as medidas introduzidas para proteger a saúde pública, e até saúda o ligeiro alívio decidido esta quinta-feira. Ainda assim, realça a necessidade de “medidas reparadoras para o setor”.
“Os bares e discotecas têm perdas de 100%, estão fechados, mas no caso da restauração e alojamento as perdas são superiores a 50%”, revela Ana Jacinto.
“20% do setor teve quebras de faturação superiores a 50% face a 2020, um ano que já teve quebras significativas”, nota ainda a responsável, citando o último inquérito realizado junto dos associados, para avaliar o impacto das restrições introduzidas no Natal e no Ano Novo.
“Foi tudo junto: as dificuldades dos consumidores e dos clientes em terem os testes; depois restrições na mobilidade pessoas de outros países; constrangimentos inerentes ao facto de as nossas empresas terem trabalhadores infetados ou de quarentena por contacto com pessoas infetadas. Em micro e pequenas empresas a falta de dois ou três pessoas inviabiliza o funcionamento da empresa”, recorda.
A secretária-geral da AHRESP sublinha também que “tudo isto faz com que o cenário seja péssimo neste setor de atividade”.
Janeiro e fevereiro já são meses tradicionalmente maus para os setores da restauração e do alojamento, mas este ano será ainda pior, diz Ana Jacinto.
A dirigente refere que os bons resultados alcançados nos meses de verão não foram suficientes para as empresas se aguentarem nos meses piores.
“O verão foi interessante, mas essas reservas já foram mais do que consumidas. Eram poucas”, alerta Ana Jacinto.
“Se não entrarem mais apoios muitas empresas não vão sobreviver”, admite a responsável, especificando que 36% das empresas consideram ter de fechar portas, se ficarem sem apoios.
“Este é um setor muito resiliente, não batem com a porta facilmente, metem tudo na empresa que é o sustento da família, por isso, nesta reta final é fundamental continuar a ter apoios até que se concretize a retoma económica”, defende.
E num período de campanha eleitoral, Ana Jacinto não responde se os restaurantes vão penalizar politicamente o Executivo pela falta de apoios, atribuídos de “forma complexa e pouca ágil”.
No entanto, reconhece que “alguns candidatos já falam para este eleitorado”. “É um eleitorado importante, um motor da economia. Sem restaurantes e alojamento não vamos ter uma boa economia”, recorda.
“O período eleitoral não pode ser desculpa para que não sejam adotadas medidas reparadas, alegando que não há capacidade, porque são adotadas medidas restritivas”, conclui Ana Jacinto.