Diferente dos anteriores, com mais tensão e muito menos simpatia. Jerónimo de Sousa, secretário-geral comunista que representa a coligação CDU, e António Costa, secretário-geral do PS, encontraram-se num frente-a-frente pouco amistoso para quem já foi geringonça no passado.
Foi um reencontro de parceiros no qual as águas passadas ainda fizeram os moinhos moer.
Esta terça-feira, Jerónimo de Sousa e António Costa sentaram-se frente-a-frente para recordar o passado e prever o futuro, ainda que a futurologia tenha sido recusada pelo secretário-geral do PCP.
O chumbo do Orçamento do Estado de 2022 por parte dos comunistas é uma ferida que Costa não deixa sarar. O socialista frisou mesmo que se não fosse o voto contra do PCP na generalidade, muitas das exigências do partido que ficaram pelo caminho teriam arrancado logo no início deste ano.
Jerónimo lembrou, no início do debate, que as eleições legislativas servem para eleger 230 deputados “e não um primeiro-ministro“, rejeitando falar do futuro e de possíveis entendimentos depois do dia 30 de janeiro.
Já António Costa assumiu a “desconfiança” que sente em relação a uma repetição de um novo acordo à esquerda.
A divisão parece insanável. “Não há mortes definitivas, a não ser a própria morte. Nas atuais circunstâncias, o que tenho de dizer aos cidadãos é que não sinto confiança para dizer que essa [uma nova geringonça] é uma solução estável. Essa solução, nesse momento, não me dá confiança”, frisou o atual primeiro-ministro.
“Não faria vaticínios antes dos resultados eleitorais. As convergências são sempre importantes”, respondeu o comunista, salientando que os cenários se mantêm abertos e mostrando-se disponível para negociar.
Jerónimo não foi aos estúdios da TVI realçar o que os separa, mas Costa foi determinado a responsabilizar o PCP pelo chumbo do OE. Sem querer alimentar “acusações mútuas”, o comunista ainda apontou o dedo Costa por ter precipitado eleições em prol de uma maioria absoluta.
Apesar disso, afirmou que “não há inimigos“. “Não tenho ideia desse discurso belicista. A nossa crítica é clara, numa perspetiva de encontrar soluções”, garantiu.
Para os comunistas, o futuro depende das propostas que existirem em cima da mesa e das garantias que lhes são dadas para as cumprir. “O conteúdo das coisas é que determina a nossa posição, mais do que ser apresentado por esse ou por aquele, é a validade dessa proposta, venha de onde vier.”
Já António Costa não deixou dúvidas sobre a meta eleitoral: um “Governo estável”. Foi um anúncio da morte do acordo das esquerdas, ainda que Jerónimo seja cauteloso e prudente a fechar totalmente a porta. A “convergência” só foi mencionada pelo comunista, que não assinou os papéis do divórcio.
“Estamos aqui com uma posição construtiva“, atirou.
Lembrando algumas das bandeiras do PCP – o aumento das pensões; a eliminação do pagamento especial por conta; a isenção de IRS para 170 mil famílias; e os apoios para 120 mil crianças em extrema pobreza –, Costa salientou que só não passaram porque os comunistas se juntaram aos outros partidos, num “ato de enorme irresponsabilidade política“.
Para já, e até dia 30, parece não haver possibilidade de reatar a geringonça.
Esta quarta-feira, Francisco Rodrigues dos Santos (CDS) debate com João Cotrim Figueiredo (IL) na RTP3, pelas 18h15; Rui Rio (PSD) senta-se frente-a-frente a Catarina Martins (BE) na SIC, pelas 21h; e André Ventura (Chega) reúne-se nos estúdios da CNN Portugal com Rui Tavares (Livre), pelas 22h.