Em carta aberta, José Sócrates comparou o sorteio da Operação Marquês ao encobrimento dos abusos de menores pela Igreja Católica.
O antigo primeiro-ministro José Sócrates escreveu uma carta aberta dirigida ao Conselho Superior da Magistratura em que compara a distribuição do caso da Operação Marques ao encobrimento da Igreja Católica relativamente à pedofilia.
“Há cinco anos, o Conselho defendia que a nova distribuição do Processo Marquês não era necessária e que ela ‘foi manual por não poder ser eletrónica dados os problemas de funcionamento que determinaram o encerramento do Citius em setembro de 2014’. Hoje reconhece que nada disto era verdade – a distribuição era necessária e o sistema informático naquele tribunal estava a funcionar regularmente”, lê-se na carta citada pela CNN Portugal.
A carta é data de 29 de dezembro de 2021 e foi publicada esta segunda-feira no Diário de Notícias.
José Sócrates escreve ainda que o relatório admite que “a distribuição do Processo Marquês foi manipulada e falsificada”. O ex-primeiro-ministro diz que não foi feita por sorteio, com a presidência de um juiz, nem “de modo a garantir igualdade na distribuição de serviço”.
Para o socialista, o que aconteceu a 9 de setembro de 2014 foi uma “trapaça jurídica com o objetivo de escolher, de forma arbitrária, o juiz do caso”.
“Um juiz capaz de ordenar a detenção no aeroporto por perigo de fuga quando estava a entrar no país e não a sair; um juiz disponível para colaborar com o festim da violação de segredo de justiça que se seguiria; um juiz sem pudor de fazer indecentes insinuações a propósito do principal visado numa entrevista televisiva”, escreve ainda Sócrates, referindo-se a Carlos Alexandre.
“Ao ler este vosso relatório a primeira ideia que me vem ao espírito tem que ver com os primeiros comunicados da Igreja Católica a propósito do abuso de menores. A Igreja demorou a aprender. Espero que o sistema judicial não leve tanto tempo a perceber que o encobrimento só agrava as coisas, não as resolve”, acrescenta.