Apesar de terem registado um grande aumento nas infeções, países como o Reino Unido ou a Dinamarca não têm notado uma grande subida nas hospitalizações, o que pode ser um indicador promissor para Portugal.
Mal se começou a ouvir falar da variante Ómicron e esta já era dominante em vários países. Perante as incógnitas que existiam e ainda existem sobre os sintomas, a transmissibilidade e severidade dos casos causados por esta nova mutação no coronavírus, os especialistas estão a analisar os primeiros países que foram varridos pela Ómicron para perceberem o seu efeito nos sistemas de saúde.
Muito mais contagiosa do que a Delta, a Ómicron levou a uma escalada nunca antes vista dos novos casos em países como o Reino Unido ou a Dinamarca, onde foram batidos os recordes de infeções diárias.
Em Portugal, o cenário é semelhante, tendo sido registados sucessivos novos máximos de casos nos últimos três dias e há já previsões de que possamos chegar às 50 mil infeções diárias nas próximas semanas.
Apesar do grande aumento de casos, até agora, os sistemas de saúde britânico e dinamarquês estão a conseguir lidar com o aumento nos internamentos – que não foi de todo proporcional à subida dos casos. As mortes também não subiram ao ritmo galopante que se previa.
No país nórdico, que tem cerca de 5 milhões de habitantes, o novo recorde de casos quase quadruplicou desde o último pico registado em 2020, havendo um dia em que 12 500 dinamarqueses ficaram infectados. As previsões das hospitalizações apontavam para que até 250 doentes tivessem de ser internados na véspera de Natal, mas o número ficou-se pelas 125.
As autoridades dinamarquesas admitem que os números são encorajadores, mas mantém-se cautelosas, especialmente com o aumento de casos que se prevê nas semanas depois das festividades e com a reabertura das escolas.
Já no Reino Unido, a Ómicron tornou-se dominante em meados de Dezembro depois da enorme subida de casos que começou no dia 12. O país está agora a registar mais de 130 mil casos diários, mas os internamentos continuam estáveis.
“O impacto hospitalar da Ómicron nesses países parece muito limitado. Contudo, mais um par de semanas de observações dará mais confiança, em especial depois de passarem as festividades”, afirma Manuel Carmo Gomes, o epidemiologista e membro da comissão técnica de vacinação contra a covid-19.
Uma das causas da apreensão inicial causada pela Ómicron foi o facto de ter sido inicialmente identificada na África austral, mais precisamente na África do Sul. A realidade destes países em termos de vacinação e da capacidade de resposta dos sistemas de saúde é muito diferente da vivida na Europa, o que levou a que o impacto da nova variante fosse bastante mais forte nesta parte do mundo.
Mas os cenários no Reino Unido e na Dinamarca são bastante mais parecidos com a realidade portuguesa, nota o Expresso. Um indicador positivo é de que Portugal tem taxas de cobertura vacinal ainda mais altas do que estes dois países.
Segundo o Our World in Data, 89% dos portugueses têm a vacinação completa. Na Dinamarca, este valor fica-se pelos 78% e no Reino Unido o número é de 69%.
Apesar de já haver farmacêuticas a trabalharem numa vacina adaptada à Ómicron, os estudos preliminares indicam que as vacinas actuais continuam a ser eficazes na prevenção de casos graves e de mortes, especialmente depois da dose de reforço.
Por outro lado, Portugal tem uma população muito envelhecida e que está por isso mais em risco. Para colmatar isto, o país tem apostado na terceira dose para os mais velhos, e 87% dos maiores de 80 anos estão já protegidos com o reforço, assim como 85% dos que têm entre 70 e 79 anos.
Os sintomas mais brandos da Ómicron são também um factor que ajuda a explicar o baixo número proporcional de internamentos e de mortes.
Todos estes indicadores promissores têm levado a que alguns especialistas, como Carmo Gomes, já tenham recomendado uma mudança de estratégia em Portugal, defendendo que talvez seja melhor aliviar as medidas e deixar o vírus circular até que se torne endémico, como a gripe, e que a população fique imune através da infeção.
O epidemiologista reforça a sua posição com a impossibilidade de se testar toda a gente face ao aumento galopante de novos casos, que dificulta fazer o rastreamento de todos os contactos de risco. A pressão da linha SNS24 e nas urgências é também um problema.
Mesmo assim, o especialista contrapõe que só daqui a duas semanas se deve tomar decisões, quando já houver dados sobre o impacto das festividades e se puder perceber como o Serviço Nacional de Saúde está a lidar com a subida das infeções. Há também outros peritos que apontam a imunidade de grupo como uma estratégia arriscada e precoce, pelo menos por enquanto.