Desde 1991 que, todos os anos, três vezes por ano, Bárbara Sebastião, de 74 anos, e o marido, de 78, cumprem religiosamente a presença em Fátima, trazendo a casa às costas que instalam nas imediações do santuário.
“Venho para o 13 de maio, para o 13 de agosto e para o 13 de outubro. Eu não consigo passar o ano sem cá vir três vezes por ano, eu e o meu marido”, disse à agência Lusa Bárbara Sebastião, de Lamego, justificando a peregrinação com o gostar de estar “ao pé de Nossa Senhora”.
De cada uma das vezes, o casal acampa a meia dúzia de metros da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. É por aqui que ficam sempre 15 dias, mais coisa menos coisa.
“Eu venho porque tenho amor à Nossa Senhora e porque Lhe tenho pedido muita coisa e Ela tem atendido a tudo”, afirmou a peregrina, recordando os tempos em que “não havia casas, nem havia nada” em Fátima e Bárbara, então com 16 anos, já trilhava os caminhos em direção ao santuário.
O marido, Eduardo Santos Silva, antigo trabalhador da EDP, aproveita o facto de estar reformado para cumprir o prometido: “Prometi à Nossa Senhora que, enquanto eu puder, venho cá três vezes no ano”.
À Lusa, assegura que não abdica do turismo espiritual. “Não troco isto por praia, nem nada. Estou aqui à minha vontade, estou aqui ao pé da Nossa Senhora, é como estar em nossa casa”, declarou.
A escassos metros, numa outra tenda, “mora” por estes dias Graça Bóia, de 66 anos, de Buarcos, Figueira da Foz.
Aos 15, a pé, fez-se à estrada para cumprir a promessa da família para que a Virgem de Fátima salvasse o irmão do Ultramar que acabou por ir “para o bacalhau”.
Dessa peregrinação, pensou que “estava a ver que Fátima era no fim do mundo”.
“Diziam assim, é mais uma curva, é mais uma curva”, explicou quem, depois de maio, escolheu também outubro e, igualmente, outros meses e outros dias do ano para se fazer peregrina a Fátima.
Graça Bóia perdeu o número de vezes que rezou em Fátima, cuja devoção continua a indicar-lhe este caminho.
“Não vamos às Canárias, não vamos a mais lado nenhum e vimos aqui, que gostamos. Para mim é a coisa melhor do mundo. As minhas férias preferidas são estas”, afiançou.
Carlos Mendes, de 67 anos, de Braga, pede em Fátima o que não encontrou em Cabinda, Angola, quando a guerra colonial representava a possibilidade de não regressar: “Paz para o mundo todo”.
“Estive no Ultramar e pedi a Nossa Senhora que se me deixasse cá chegar ao continente (…) de vir cá essas vezes, maio e outubro”, justificou Carlos Mendes por que é peregrino frequente ao santuário.
E desde 1971 que o cumpre escrupulosamente.
“Ao princípio vínhamos de autocarro e ficávamos por aí, pelas beiras, onde calhava, com chuva, vento, frio. E depois viemos com as tendas”, disse. Agora, o casal apanhou boleia numa autocaravana de amigos.
E se não viesse ao santuário? “Ai, não ficava bem. Tenho que vir a Fátima”, respondeu.
Milhares de fiéis são esperados no domingo e na segunda-feira no Santuário de Fátima, a última grande peregrinação do ano que, pela primeira vez, coincide com o Dia Nacional do Peregrino.
Preside à celebração o arcebispo de Goa e Damão, na Índia, Filipe Néri Ferrão.
/Lusa