André Ventura, líder do Chega, tinha ameaçado de expulsão os deputados municipais que fizessem acordos com Câmaras do PS ou do PCP. Mas, na realidade, há vereadores do partido a viabilizarem orçamentos socialistas, nomeadamente no Entroncamento e em Sintra.
André Ventura foi claro, em Setembro passado, quando ameaçou de expulsão os deputados municipais do Chega que fizessem acordos com Câmaras socialistas ou comunistas.
“Darei pessoalmente instruções a todos os deputados municipais do Chega para que não viabilizem qualquer executivo, mesmo que este seja participado por um vereador, à revelia da direcção nacional do partido e das suas directrizes nacionais. Seremos implacáveis a nível disciplinar“, prometeu Ventura.
Mas depois da confusão nos Açores, em que o deputado regional José Pacheco acabou por viabilizar o orçamento do Governo regional do PSD, após Ventura ter dito publicamente que o chumbaria, também há deputados municipais a colocarem-se ao lado do PS em algumas Câmaras Municipais.
Um dos casos que é citado pelo Expresso refere-se ao Entroncamento, onde PS (32,45%) e PSD (31,71%) ficaram com o mesmo número de mandatos, três cada. O Chega tem um mandato com 11,24% dos votos e foi a “pedra de salvação” dos socialistas, aprovando o orçamento da autarquia. Já os vereadores do PSD abstiveram-se.
O vereador do Chega, Luís Forinho, explica ao Expresso que não fez qualquer “aliança” com o PS, mas nota que não poderia “bloquear um projecto desta envergadura só pelo gosto e pelo prazer de algumas pessoas que vivem da política”.
“Não gosto do PS, combato ferozmente o PS, não estou nem um pouco de acordo com a ideologia do PS mas, neste momento, é o PS que está a gerir a Câmara”, destaca ainda Forinho que só ocupou o lugar de vereador porque o primeiro da lista, Diamantino Graça, renunciou em choque com a direcção do Chega, denunciando “ameaças e coacção”.
Forinho diz que não recebeu qualquer orientação da direcção do Chega quanto à forma como deveria votar, mas aponta ao Expresso que “antes de tomar qualquer decisão importante ou praticamente todas as decisões” se reúne com a presidente da concelhia que, diz, está “permanentemente em contacto” com a liderança da distrital.
“Vou aprovar todos os projectos até ter ordem em contrário do meu partido. No dia em que o meu partido me proibir de o fazer, não estou a fazer nada na Câmara e demito-me das minhas funções”, aponta ainda Forinho.
“Se é só para dizer não ao PS, estou ali a fazer uma figura de fantoche, o que se o André [Ventura] me conhecesse, entenderia que não é de forma nenhuma a minha posição”, conclui o vereador do Chega no Entroncamento.
Em Sintra, o partido também está bem encaminhado para viabilizar o orçamento de mais uma Câmara liderada pelo PS.
Neste caso, os socialistas não precisam do voto do Chega, contando com cinco mandatos (35,29% da votação). A coligação de direita composta por PSD, CDS e PPM conseguiu quatro mandatos (27,52%) e a CDU e Chega conseguiram um cada, com votações da ordem dos 9%.
Mas o vereador do Chega, Nuno Afonso, que é vogal da direcção do partido, também deverá votar ao lado dos socialistas na aprovação do orçamento, sublinhando que não irá “obstaculizar coisas que estão bem feitas”, também em declarações ao Expresso.
“Não queremos fazer oposição só porque sim ou para sermos do contra. Queremos fazer uma oposição séria, construtiva e pela positiva. Algumas das nossas bandeiras estão a ser incluídas nas grandes opções do plano e se a Câmara implementar, como se compromete, medidas que são fundamentais para nós, nesse caso vamos apoiar”, destaca Nuno Afonso.
O vereador dá exemplo do próprio Ventura na Assembleia da República, considerando que, “às vezes, há propostas do Bloco de Esquerda que fazem sentido e ele vota a favor”.