Sem dentes e com nome de realeza. O Berthasaura leopoldinae é o primeiro exemplar brasileiro de dinossauro muito raro

Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro

A nova espécie nunca tinha sido detectada na América Latina e o bom estado de conservação das ossadas surpreendeu os paleontólogos.

Tem nome de imperatriz e é um dos fosséis mais completos de um dinossauro do período cretáceo alguma vez encontrado no Brasil. O Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro anunciou na última quinta-feira que descobriu um exemplar fóssil de uma espécie de dinossauro até agora nunca antes detectada na América Latina.

A descoberta foi anunciada num artigo da Nature, tendo o fóssil sido encontrado numa zona rural no município de Cruzeiro do Oeste, no estado do Paraná, a 530 quilómetros de Curitiba. As escavações ocorreram entre 2011 e 2014. numa zona que é conhecida como o “Cemitério dos Pterossauros“.

Baptizado em homenagem à investigadora e feminista Bertha Lutz, falecida em 1976, e à imperatriz Maria Leopoldina e à escola de samba Imperatriz Leopoldinente, o fóssil chama-se Berthasaura Leopoldinae.

O dinossauro viveu no Brasil num período entre há 70 e 80 milhões de anos e possui feições muito únicas no crânio, o que tornam esta descoberta notável no panorama da paleontologia brasileira nos últimos anos.

O pequeno dinossauro tinha cerca de um metro de comprimento e 80 centímetros de altura é um terópode, um tipo de dinossauro que se acredita que sejam carnívoros. O seu peso não deveria passar dos 10 quilos. O incrível estado de conservação das ossadas foi uma surpresa para os cientistas.

Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Berthasaura Leopoldinae

“Temos restos do crânio e mandíbula, coluna vertebral, cinturas peitoral e pélvica e membros anteriores e posteriores, o que torna “Bertha” um dos dinos mais completos já encontrados no período Cretáceo brasileiro”, revelou Alexandre Kellner, director do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Já o especialista Luiz Carlos Weinschutz, da Universidade do Contestado em Santa Catarina, argumenta que o clima da região pode ter contribuído para a conservação do fóssil e que a descoberta permite entender melhor os ecossistemas e a fauna do Brasil.

“Toda essa região era recoberta por um grande deserto. Possivelmente, com vegetação no entorno de áreas húmidas. Essas condições quase inóspitas podem ter sido importantes para a espetacular fossilização”, especula.

Mais surpreendentemente, a nova espécie tem uma boca como um bico e sem dentes e é a primeira espécie edêntula encontrada na América Latina. A ausência de dentes levanta questões sobre o tipo de dieta do animal.

“Qual seria a dieta? A gente pode hipotetizar que ela poderia ter uma dieta diferente da maioria de dinossauros do seu grupo. Mas não é porque o animal é edêntulo que ele não pode ser capaz de comer carne. Muitos pássaros, como falcões e urubus, comem carne com os bicos“, ponderou Geovane Alves de Souza, investigador e aluno do doutorado do Museu Nacional.

O estudante acredita que o mais provável é que o dinossauro fosse omnívoro e que vivesse num “ambiente inóspito” onde comia o que podia. Já Kellner acredita que este detalhe abre um “leque de questionamentos”. “Agora você tem um bicho totalmente diferente, que nunca teve dentes. Essa é uma das cinco principais descobertas que participei na minha vida”, confessou o especialista.

Adriana Peixoto, ZAP //

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