Um famoso dicionário francês adicionou um pronome de género neutro e está agora a enfrentar forte contestação política. “A escrita inclusiva não é o futuro da língua francesa”, disse o ministro da Educação.
O dicionário Le Robert, um dos mais emblemáticos dicionários gauleses, adicionou o pronome de género neutro “iel” à lista de vocábulos da língua francesa. Esta é uma combinação dos pronomes “il” [ele] e “elle” [ela].
A adição foi feita após os seus investigadores terem notado “um crescente uso” do termo da terceira pessoa do singular num “grande corpo de textos extraídos de várias fontes”, explica o diretor do dicionário, Charles Bimbenet, em comunicado.
“A missão [do dicionário] é observar a evolução de uma língua francesa em fluxo. Definir as palavras que descrevem o mundo ajuda-nos a entendê-lo melhor”, explicou Bimbenet.
O dicionário define “iel” como um pronome de terceira pessoa no singular que pode referir-se a uma pessoa de qualquer género. O plural da palavra é “iels”, estando também as variações “ielle” e “ielles” incluídas no dicionário.
Se, por um lado, a introdução do pronome tem recebido um feedback positivo da maioria dos seus utilizadores, por outro, há quem conteste fortemente a adição do termo aos dicionários. Segundo refere o The Washington Post, vários políticos franceses expressaram forte oposição à adoção formal dos pronomes não-binários.
O ministro da Educação francês, Jean-Michel Blanquer, publicou um tweet na quarta-feira a sugerir que crianças em idade escolar não devem usar o pronome de género neutro como uma referência válida.
Je soutiens évidemment la protestation de @FJolivet36 vis-à-vis du #PetitRobert
L’écriture inclusive n’est pas l’avenir de la langue française.
Alors même que nos élèves sont justement en train de consolider leurs savoirs fondamentaux, ils ne sauraient avoir cela pour référence: https://t.co/09thJzQ7iN— Jean-Michel Blanquer (@jmblanquer) November 16, 2021
“A escrita inclusiva não é o futuro da língua francesa”, atirou o governante.
Blanquer disse apoiar o protesto do deputado francês François Jolivet, que disse que “os autores [do dicionário] são, portanto, os militantes de uma causa que nada tem de francês”.
Numa carta endereçada à L’Académie Française, uma instituição centenária criada para ser a guardiã da língua francesa, Jolivet escreveu que a “campanha solitária do Le Robert é uma intrusão ideológica óbvia que mina a nossa linguagem comum e a sua influência”.
O Le Robert não é o primeiro dicionário a acrescentar pronomes de género neutro à sua lista de vocábulos. Ainda em 2015, o dicionário da Academia Sueca (SAOL) incluiu na sua versão atualizada o pronome “hen”. O pronome foi cunhado em 1960, quando o uso generalista de “han” (ele) se tornou politicamente incorreto.
Em Portugal, uma solução por vezes encontradas na internet é usar “X” ou “@” no lugar de “o” ou “a”. Por exemplo: elX é eduacadX. No entanto, não funciona na linguagem oral.