Os transportes vão ser o grande foco de discussão de hoje, depois de ontem terem estado em cima da mesa questões como a igualdade de género, a ciência e a inovação. O Ministro do Ambiente vai intervir.
O setor dos transportes, responsável por grande parte das emissões de gases com efeito de estufa, é hoje o grande tema da cimeira do clima de Glasgow, no dia em que Portugal fala no segmento de alto nível da conferência.
O ministro português do Ambiente e Ação Climática deve falar na manhã de hoje, o segundo de dois dias em que discursam na cimeira os ministros dos países cujos líderes não estiveram presentes na inauguração da COP26, na semana passada.
E o dia é dedicado também aos transportes, que exercem grandes pressões ambientais, contribuindo para as alterações climáticas, para a poluição atmosférica e para níveis elevados de ruído.
A presidência da cimeira diz que se está no início de um mercado em massa para veículos que não emitam dióxido de carbono, “uma transição que precisa de ser significativamente acelerada” para manter o objetivo de não deixar que as temperaturas subam além de 1,5ºC (graus celsius) em relação à época pré-industrial.
Por isso, o dia dedicado aos transportes, segundo a presidência britânica, vai juntar líderes de todo o setor para acelerar a transição para veículos com emissões zero e para descarbonizar também outros setores como a aviação e o transporte marítimo.
O objetivo é incentivar os governos a criarem “corredores marítimos verdes”, rotas marítimas descarbonizadas, lançando a chamada “Declaração de Clydebank”.
O dia ainda será para lançar compromissos para que em poucos anos todos os veículos automóveis vendidos sejam de emissões zero, e que na área da aviação também se chegue às emissões zero no futuro.
“Temos uma montanha para subir nos próximos dias”
Foi divulgado esta terça-feira um novo relatório que mostrou que mesmo que todas as metas para cortes de emissões das contribuições nacionais determinadas (NDC, na sigla inglesa) sejam cumpridas, a temperatura do planeta vai ainda aumentar 2,1 graus até ao fim do século. Já no caso de apenas cumprirmos as metas para 2030, o aumento seria de 2,4 graus. A ONU já tinha avisado que, continuando tudo como está, a subida chegará aos 2,7 graus.
Durante a sua conferência de imprensa diária, Alok Sharma, presidente da COP26, afirmou que já “houve progressos”, mas que sabe que não chegam. “Mas se olharmos para onde íamos, antes de Paris [COP21], havia dados que indicavam que caminhávamos para um aumento de temperatura de seis graus. Depois, mesmo com os compromissos ali assumidos, continuávamos nos quatro graus e agora estou certo que virámos a curva para os dois graus. É claro que não é suficiente. Queremos manter os 1,5 graus vivos, queremos mantê-los ao nosso alcance, e é para isso que vamos trabalhar nos próximos dias. Estamos a fazer progressos, mas ainda temos uma montanha para subir nos próximos dias”, cita o Público.
Várias ONGs representadas na cimeira também não estão convencidas. “A cimeira não está a correr em linha com o que gostaríamos. Tem havido alguns avanços, mas limitados. Há espaço para que durante esta semana haja compromissos significativos, principalmente na redacção da declaração final, que ainda está no início e tem de ser bastante melhorada”, afirmou Francisco Ferreira, da Zero.
Já José Luís Monteiro, da Oikos, fala em mais uma cimeira “de promessas”. “Já foram feitas tantas que tenho filhos mais novos do que algumas delas, e já nenhum deles anda na escola primária”, criticou, descrevendo as decisões de segunda-feira, dia que foi dedicado à adaptação às alterações climáticas como “uma grande traição aos países do Sul” devido à solução dos empréstimos, que “só vai aumentar a dívida“.
Ontem, a cimeira dedicou-se à ciência e inovação, assim como à igualdade de género na crise climática. Foram anunciados mais 413 milhões de dólares, cerca de 356 milhões de euros, que estão destinados ao Fundo dos Países Menos Desenvolvidos.
A Bolívia também se comprometeu a promover a liderança feminina nos projectos de desenvolvimento sustentável, sobretudo nas áreas rurais. Já o Canadá prometeu que 80% dos 5,3 mil milhões de dólares que vai investir na resposta às alterações climáticas nos próximos cinco anos vão ter em conta a promoção da igualdade de género.
Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos reúnem-se até 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta a entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que, ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.
ZAP // LUSA