Há mais de 40 empresas e 70 pessoas envolvidas na rede de tráfico dos Comandos

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Miguel A. Lopes / Lusa

Há mais de 40 empresas e 70 pessoas envolvidas na rede de tráfico dos Comandos na República Centro-Africana. Já há pelo menos dez detidos.

A Polícia Judiciária (PJ) esteve esta segunda-feira a fazer buscas em mais de 100 locais em todo o país por suspeitas de tráfico de diamantes, ouro e droga em missões militares. A PJ tinha mandados de detenção para comandos e ex-comandos sob suspeita de terem montado uma associação criminosa em torno das missões portuguesas na República Centro Africana (RCA). Este esquema já era conhecido das autoridades desde 2019.

A Operação Miríade resultou, segundo a TVI24, na detenção de dez indivíduos. Entre os detidos estão militares e ex-militares dos comandos, dois agentes da PSP, um militar da GNR, um advogado.

De acordo com o Público, mais de 40 empresas — parte delas de fachada — e 70 pessoas de várias nacionalidades estarão envolvidas.

O esquema terá sido denunciado por um intérprete da missão na RCA ao qual Paulo Nazaré, o principal arguido neste caso, terá prometido 20% dos dividendos de um negócio de diamantes. Nazaré continua em liberdade e estará atualmente a viver em África após deixar as Forças Armadas em 2018.

Numa das escutas, dois arguidos falam sobre uma das operações em curso, que envolveria um montante superior a 500 milhões de euros.

Segundo a PJ, investiga-se uma rede criminosa que se dedicava ao contrabando de diamantes, ouro e drogas, contrafação e passagem de moeda falsa, acessos ilegítimos e burlas informáticas, com o objetivo de branquear capitais.

Suspeita-se que os militares das missões portuguesas na RCA transportavam os bens a bordo de aviões militares, cuja carga não é fiscalizada. O Público escreve que para branquear o dinheiro, os arguidos compravam criptomoedas, recorrendo a testas-de-ferro, que chegavam a receber até 50% dos depósitos.

Portugal tem integrado, na última década, dezenas de contingentes das Nações Unidas para operações de manutenção de paz na República Centro Africana.

Em causa estão suspeitas de tráfico de diamantes, ouro e droga em missões militares ao abrigo da ONU noutros países, que depois eram transportados para locais como Antuérpia e Bruxelas, na Bélgica.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, reprova o comportamento, mas não põe em causa a imagem das Forças Armadas portuguesas: “O que digo é que a imagem internacional muito beneficia do facto de nós sermos, como gostamos de dizer, um contribuinte líquido para a segurança internacional e do facto de, em particular nas missões de paz das Nações Unidas, mas também também nas missões da NATO e da União Europeia, o papel desempenhado pelos militares portugueses ser unanimemente reconhecido”.

O Presidente da República disse, esta segunda-feira, que não tinha conhecimento da megaoperação. Marcelo Rebelo de Sousa assegurou que está a ser feito de tudo para apurar se as suspeitas têm razão de ser e diz que é necessário “confirmar se são casos isolados”. Assim como Santos Silva, Marcelo reforça que a investigação “não tira prestígio” às Forças Armadas.

“Eu normalmente em território estrangeiro não faço comentários sobre a situação portuguesa, mas aqui é uma situação de projeção internacional, de prestígio das Forças Armadas, nomeadamente numa intervenção neste continente, continente africano”, disse Marcelo à chegada a Cabo Verde, onde esteve na tomada de posse de José Maria Neves.

“Logo que houve a denúncia, no final de 2019, as Forças Armadas, elas próprias, através do Estado-Maior General das Forças Armadas, em colaboração com o Estado-Maior do Exército, desencadearam as investigações. Segundo, a Polícia Judiciária Militar teve um papel nessas investigações. Terceiro, porque o âmbito era mais vasto, a Polícia Judiciária passou a intervir e a ter um papel fundamental nas investigações ao longo de 2020 e 2021”, acrescentou.

Daniel Costa, ZAP //

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