Amostras de fezes da Idade do Ferro, encontradas na Áustria, mostraram ter dois tipos de fungos usados ainda hoje para fazer queijo azul e cerveja.
Em comunicado, os cientistas responsáveis pela pesquisa explicam que as fezes em questão foram encontradas nas minas de sal pré-históricas de Hallstatt-Dachstein/Salzkammergut, na Áustria, e que revelaram dois tipos de fungos.
São eles o Penicillium roqueforti e o Saccharomyces cerevisiae, duas espécies de fungos usadas ainda hoje na produção de queijo azul e cerveja.
“A análise de todo o genoma indica que os dois fungos estavam envolvidos na fermentação de alimentos e dá-nos a primeira evidência molecular para o consumo de queijo azul e cerveja durante a Idade do Ferro na Europa”, disse, na mesma nota, Frank Maixner, do centro Eurac Research, em Itália.
Para identificar os fungos, os investigadores usaram uma combinação de técnicas aprofundadas para explorar os micróbios, o ADN e as proteínas que estavam presentes nas amostras das fezes.
Além destes dois fungos, a equipa encontrou fragmentos de plantas, como farelo e glumas de diferentes cereais, o que sugere que se tratava de uma dieta altamente fibrosa e rica em hidratos de carbono e que era suplementada com proteínas de favas e, ocasionalmente, com fruta, nozes ou produtos de origem animal.
Já as amostras de fezes mais recentes revelaram que até ao período barroco, em meados do século XVIII, a dieta era composta por alimentos não processados, fruta e vegetais, o que mostra como os nossos hábitos alimentares ocidentalizados ainda são recentes.
“Estes resultados dão-nos uma nova perspetiva sobre a vida dos mineiros pré-históricos em Hallstatt e permitem uma compreensão das práticas culinárias antigas a um nível totalmente novo”, disse a arqueóloga Kerstin Kowarik, do Museu de História Natural de Viena.
“Está a tornar-se cada vez mais claro que não apenas as práticas culinárias pré-históricas eram sofisticadas, mas também que alimentos processados complexos, bem como a técnica de fermentação, tiveram um papel proeminente na nossa história alimentar inicial”, disse ainda.
O estudo foi publicado, a 13 de outubro, na revista científica Current Biology.