A diocese de Viseu está a investigar dois casos de suspeita de abuso sexual de menores cometidos por membros da Igreja Católica.
De acordo com o jornal Público, que avança a notícia esta quinta-feira, um dos casos envolve um padre suspeito de ter enviado mensagens de teor sexual a um menor e que já foi suspenso preventivamente de funções por decisão do bispo de Viseu.
O padre em causa, de 46 anos, terá requerido uma licença sabática pelo período de um ano, mesmo antes de ter sido suspenso, tendo alegado desgaste físico e emocional. A decisão, contudo, só foi tomada depois de o menor ter mostrado as mensagens ao pai.
Segundo o Correio da Manhã, o progenitor dirigiu-se de imediato ao Ministério Público de Viseu, que já se encontra a investigar o caso e que também quer perceber se há mais destinatários destas mensagens.
O advogado Luís Coimbra, da Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da diocese de Viseu, adiantou que há outro processo aberto. “Conseguimos identificar a vítima e o eventual visado, mas ainda estamos em fase de instrução do próprio processo”, declarou.
Os abusos sexuais na Igreja voltaram a ser falados na semana passada, depois de um relatório de uma comissão francesa independente ter indicado que poderão ter existido cerca de três mil agressores de menores e até 330 mil vítimas, entre 1950 e 2020, em instituições da Igreja Católica francesa.
Em declarações ao Público, o coordenador da comissão do patriarcado de Lisboa, D. Américo Aguiar, descartou a possibilidade de se fazer em Portugal um estudo semelhante, a não ser que este não esteja exclusivamente centrado no clero.
“A Igreja é a única instituição que, apesar de todos os arrastamentos e dificuldades, está a levar isto a sério. Veem o Ministério da Educação a fazer alguma coisa? As ordens profissionais a fazer alguma coisa?”, disse.
No Facebook, o secretário de Estado da Educação, João Costa, reagiu a estas declarações do bispo num tom duro, tendo considerado que a Igreja Católica portuguesa prefere incorrer na “falácia do espantalho”, optando por “levantar a poeira noutros setores”, em vez de “olhar para dentro e agir”.
“Nas escolas, quando há indícios de abuso por parte de algum profissional, abrem-se de imediato processos de averiguações, suspensões preventivas e reporte às autoridades. Não há silêncio ou deslocação do profissional para outra escola”, escreveu o governante, acrescentando: “Como católico, entristece-me profundamente que a posição oficial da igreja portuguesa seja esta.”
Esta quarta-feira, o bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, afirmou que a Igreja não pode ter uma “atitude de contemplação” e deixou no ar a hipótese de também a Igreja Católica portuguesa poder vir a ser investigada.
“Todas as ações que tiverem de ser feitas, devem ser feitas. (…) Não podemos ter uma atitude de contemplação“, disse aos jornalistas.