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Meses depois, há partes de Nova Iorque onde ainda se aplaudem os heróis da pandemia

CNBC

Aplausos aos trabalhadores da linha da frente e profissionais de saúde em Nova Iorque

O mundo seguiu em frente, mas os nova-iorquinos não se esquecem do trabalho dos trabalhadores da linha da frente e continuam a mostrar a sua gratidão diariamente.

Em Portugal, ficou marcado para as 10 da noite, mas em Nova Iorque a tradição era às sete da tarde. Era, ou será melhor dizer é? Apesar do ritual ter desaparecido por todo o lado pouco depois de se ter popularizado, ainda há partes da Big Apple onde se aplaudem os trabalhadores da linha da frente e aos profissionais de saúde diariamente como forma de agradecimento pelo combate à covid-19.

Agora já em sintonia com as buzinas dos carros e das multidões nas ruas com o regresso aos poucos à vida normal, os nova-iorquinos nos bairros do Upper West Side ou Hell’s Kitchen continuam a saudar os heróis da pandemia e a tocar rendições da God Bless America.

“Quando, no início da pandemia, o mundo começou a bater em panelas às sete horas em apoio aos trabalhadores essenciais, eu achei que era estúpido. Não é que eu não tivesse coração, mas sempre me pareceu egoísta e fútil”, escreve a blogger Darcie Wilder na Gawker.

Com o passar todo tempo toda a gente parou de abrir as janelas para o ritual, que pareceu desaparecer com o início do Inverno, excepto no bairro de Wilder. “Sim, 18 meses depois do início da pandemia, os meus vizinhos ainda batem com panelas e potes, ao bater exacto das sete horas”, afirma.

Trata-se de um bairro estranho em Manhattan, conhecido por roubos de bicicletas e misturas entre executivos ricos com cães de raça pura e velhinhos que já lá vivem há décadas com os filhos que “esperam eventualmente herdar as casas com controlo de rendas”.

Mas acima de tudo, é uma comunidade – daquelas que não se espera ver em cidades tão grandes, especialmente uma que não é propriamente conhecida por ter habitantes calorosos e simpáticos, como é o caso de Nova Iorque.

“A comunidade reúne-se diariamente para fazer tanto barulho quanto razoavelmente possível”, revela Darcie Wilder, que admite que “bater em potes e panelas é muito fixe quando é feito 18 meses depois de todos os outros terem parado”. “Apesar de já não conseguir ouvir da minha janela, é uma caminhada pequena até ao espaço ao ar livre onde eles se juntam”, afirma.

O bairro de Darcie não é o único que mantém a tradição viva. Em certas partes de Hell’s Kitchen, que foi uma das zonas de Nova Iorque mais afectadas inicialmente pela pandemia, ainda há quem saia à janela de panela em riste. “Acho que é encantador e comovente que saiam todas as noites”, explica a actriz Aleta LaFargue, que vive no bairro.

“Ainda não saímos da tempestade e há pessoas que estão muito doentes, por isso acho que é muito querido que haja esta gratidão e um lembrete do que se passa na cidade e no mundo”, acrescenta ao WebMD.

Gail Saltz, professora de psiquiatria, apresentadora do podcast “How Can I Help?” e também uma nova-iorquina, partilha da mesma opinião. “Se aplaudir ajuda a sentir que estamos a fazer algo positivo perante o desalento da pandemia, então sim, é bom para as nossas mentes. Se aplaudir cria uma sensação de gratidão para com os profissionais de saúde, isso também é saudável“, explica.

Cumprir a promessa também nos ajuda a sentir que estamos a fazer a nossa parte no agradecimento aos heróis da pandemia. “Para nós em Nova Iorque, é esta ideia de “oh meu Deus, estes trabalhadores essenciais, os hospitais estão cheios, não vamos conseguir compensá-los por aquilo que fizeram por nós. Admiro aqueles que têm o propósito especial de se lembrarem quando seria muito mais fácil deixarem a vida meter-se a meio“, diz Phil O’Brien, editor do site W42ST.

Continuar a tradição às sete da tarde pode também ser terapêutico e ajudar com a solidão e ansiedade que resultam do crescimento dos novos casos de covid-19 nos EUA. “É fácil na nossa cultura vivermos uma atrocidade e depois, uma semana depois, pensarmos noutra coisa. Este ritual está a bater nas nossas cabeças para nos lembrar que isto ainda não acabou. Há valor nisso“, concluiu LaFargue.

Adriana Peixoto, ZAP //

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