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Ocidente vê Governo talibã com reservas. Ex-Presidente pede desculpa ao povo

Hedayatullah Amid / EPA

O ex-Presidente do Afeganistão, Mohammad Ashraf Ghani, em frente ao Palácio Presidencial, em Cabul

O ex-Presidente do Afeganistão, cuja fuga abriu as portas de Cabul e do poder aos talibãs, apresentou as suas desculpas ao povo afegão, esta quarta-feira, por não ter conseguido garantir um melhor futuro para o país.

“É com um profundo lamento que o meu próprio capítulo se concluiu com uma tragédia semelhante à dos meus antecessores, sem assegurar a estabilidade e a prosperidade. Peço desculpa ao povo afegão por não ter conseguido que as coisas terminassem de forma diferente”, declarou, em comunicado, Ashraf Ghani.

As declarações do ex-Presidente, que se refugiou nos Emirados Árabes Unidos para “evitar um banho se sangue” no seu país, seguem-se às declarações da União Europeia e dos Estados Unidos, que reagiram negativamente à composição do Governo interino afegão, que inclui a velha guarda talibã, mas nenhuma mulher, e contraria as promessas de abertura do regime.

Os talibãs anunciaram o novo Governo interino, esta terça-feira, mais de três semanas depois da tomada do poder do Afeganistão. Mohammad Hassan Akhund será o primeiro-ministro e Abdul Ghani Baradar, co-fundador do grupo, será o número dois do Executivo.

Diversos dos novos ministros estão incluídos nas listas de sanções da ONU e quatro estiveram detidos na prisão norte-americana de Guantánamo, em Cuba. A pasta do Interior foi atribuída a Sirajuddin Haqqani, definido por Washington como terrorista e historicamente próximo da Al-Qaeda.

Ao anunciar o Governo, o porta-voz talibã, Zabihullah Mujahid, afirmou que ainda “não estava completo” e que o movimento tentaria incluir “pessoas provenientes de outras regiões do país”.

O regresso do Ministério para a Promoção da Virtude e a Repressão do Vício, que instaurou duras medidas repressivas na década de 90, também tem suscitado inquietações.

Em comunicado, um porta-voz da diplomacia da União Europeia indicou que, “após uma primeira análise dos nomes anunciados, esta não se assemelha à formação inclusiva e representativa da rica diversidade étnica e religiosa do Afeganistão” que esperavam ver e que os talibãs prometeram nas últimas semanas.

O porta-voz recordou ainda que esta foi “uma das cinco condições estabelecidas” para o estabelecimento de relações entre o bloco europeu e o novo Governo afegão.

Já os Estados Unidos também denunciaram a ausência de mulheres e manifestaram “preocupação” pelas “filiações e os antecedentes de alguns destes indivíduos”, apesar de indicar que devem ser avaliados “pelos seus atos”.

Hoje, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, deve reunir-se na Alemanha com os seus homólogos de 20 países envolvidos na caótica retirada do Afeganistão, para coordenar as suas posições.

Em Paris, e numa reação divulgada esta tarde, o Executivo francês também considerou que “os atos coincidem com as palavras”, numa referência à composição da nova administração de Cabul.

A China, um dos raros países a manter aberta a sua embaixada em Cabul, optou por saudar a formação de um Governo, que põe termo a “mais de três semanas de anarquia”.

Em paralelo, o Irão insistiu na necessidade da formação de “um Governo inclusivo” para alcançar a paz no país.

“Ignorar a necessidade de estabelecer um Governo inclusivo, a intervenção estrangeira e o uso de meios militares em vez do diálogo (…) são as principais questões que devem preocupar os amigos afegãos”, indicou o secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irão, Ali Shamjaní.

Após quase duas décadas de presença de forças militares norte-americanas e da NATO, os talibãs tomaram o poder em Cabul a 15 de agosto, culminando uma rápida ofensiva que os levou a controlar as capitais de 33 das 34 províncias afegãs em apenas 10 dias.

ZAP // Lusa

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