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“Uma violação do direito à vida”. Amnistia Internacional acusa Qatar de não investigar mortes de migrantes

O Qatar tem falhado na investigação de milhares de trabalhadores migrantes na última década, acusa um novo relatório da Amnistia Internacional.

O documento, intitulado In The Prime of their Lives – No Auge das Suas Vidas – relata como o país organizador do Mundial de 2022 cria certificados de óbito para trabalhadores migrantes sem fazer investigações adequadas sobre as causas, atribuindo as mortes a causas naturais ou falhas cardíacas sem detalhes.

Estas certidões acabam com a possibilidade de compensação para as famílias dos trabalhadores, que já ficam em dificuldades económicas depois de perderem os chefes de família. Até 70% das mortes podem ter ficado por explicar. “Num sistema de saúde com bons recursos, deveria ser possível identificar a causa de morte exacta em todos menos 1% dos casos”, acusa o relatório.

A Amnistia Internacional aponta também a combinação perigosa do calor extremo a que os trabalhadores estão sujeitos com o trabalho excessivo e exigente fisicamente.

O comité organizador do Mundial já reportou 38 mortes de trabalhadores nos projectos de construção para o evento desportivo, mas 35 foram classificadas como não relacionadas com o trabalho. A ONG acredita que metade destas mortes não foram bem investigadas.

“Quando homens relativamente jovens e saudáveis morrem de repente depois de jornadas de trabalho longas sob calor extremo, levanta questões sérias sobre a segurança das condições de trabalho no Qatar”, afirma Steve Cockburn, dirigente do departamento de economia e justiça social da Amnistia.

As autoridades do Qatar estão a “ignorar sinais de aviso que poderiam salvar vidas” ao falharem nas investigações. “Isto é uma violação do direito à vida“, acusa.

Em Maio, o Qatar estendeu a proibição do trabalho ao ar livre nas horas de maior calor de 1 de Junho até 15 de Setembro e também deu aos trabalhadores o direito de parar de trabalhar e poder fazer uma queixa ao Ministério do Trabalho em caso de receio de golpes de calor. Para David Wegman, a lei é uma melhoria, mas não é suficiente.

“A lei fica aquém daquilo que é necessário para a protecção dos trabalhadores que estão sujeitos a stress térmico de todos os tipos”, explica o especialista em saúde e segurança na indústria da construção, já que faltam períodos mandatários de descanso.

Já desde 2010, ano em que o Qatar foi escolhido como país organizador do próximo Mundial de futebol, que o tratamento dos trabalhadores no Qatar é escrutinado e criticado. Em Fevereiro deste ano, saiu a notícia de que mais de 6500 trabalhadores tinham morrido nos últimos dez anos.

As selecções da Noruega, Alemanha e Países Baixos até já chegaram a protestar ao usar t-shirts que faziam referência ao caso, tendo a equipa nórdica até ponderado fazer um boicote à competição.

As autoridades do país defendem que a taxa de mortalidade dos migrantes está dentro do esperado, dado o tamanho da força de trabalho de 2 milhões de pessoas, mas o relatório da Amnistia Internacional duvida deste argumento devido à “má qualidade de dados disponíveis”.

AP, ZAP //

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