O juiz de instrução designado na segunda-feira para comandar a investigação sobre o assassinato do presidente haitiano Jovenel Moise, morto a tiro em julho por um comando armado, anunciou esta sexta-feira que vai deixar o caso.
“Desvinculamo-nos deste caso por razões pessoais e ordenamos a sua devolução ao decano deste tribunal”, informou o juiz Mathieu Chanlatte em carta dirigida ao tribunal de primeira instância de Porto Príncipe.
A rapidez com que o magistrado abandonou o caso, epicentro da atenção nacional, não surpreende alguns profissionais da justiça, que não escondem o risco da missão.
“Eu disse que seria difícil para o juiz Chanlatte. Continua com o mesmo carro, não tem outros seguranças ao seu serviço”, reagiu em declarações à AFP o juiz Jean Wilner Morin, presidente da Associação Nacional de Magistrados do Haiti, em um momento em que o país está assolado pela violência de grupos armados.
“Há grupos armados nas imediações do tribunal de primeira instância de Porto Príncipe, razão pela qual é muito difícil que qualquer magistrado possa levar adiante este caso”, acrescentou Morin.
Na investigação sobre o homicídio do presidente, que ocorreu a 7 de julho, na sua residência, a polícia haitiana diz já ter detido 44 pessoas, entre elas 12 policiais haitianos, 18 colombianos e dois americanos de origem haitiana.
As dúvidas sobre o assassinato aumentam no país: quem são os autores? E qual foi o motivo do ataque, durante o qual a primeira-dama ficou ferida, mas nenhum agente de segurança do chefe de Estado foi atingido?
“É necessário que todos os atores implicados aceitem que se lance luz sobre o assunto: quando um juiz não dispõe dos meios necessários para tratar de um caso assim, o caso está a ser obstruído.Quando o tribunal onde fica o escritório do magistrado não é seguro e os documentos podem ser roubados, o caso está a ser obstruído”, concluiu Morin.
// AFP