Um recém-descoberto visitante das orlas externas do nosso Sistema Solar demonstrou ser o maior cometa conhecido de todos os tempos, graças aos telescópios de resposta rápida do Observatório Las Cumbres.
O objeto, denominado Cometa C/2014 UN271 (Bernardinelli-Bernstein) em honra dos seus dois descobridores, foi anunciado pela primeira vez no sábado, dia 19 de junho de 2021.
C/2014 UN271 foi descoberto graças ao reprocessamento de quatro anos de dados do DES (Dark Energy Survey), que foi realizado com o telescópio Blanco de quatro metros no Observatório Interamericano de Cerro Tololo, no Chile, entre 2013 e 2019.
Aquando do anúncio da descoberta, não havia indicação de que este era um objeto ativo. As expetativas ficaram imediatamente lá em cima entre os astrónomos. C/2014 UN271 era proveniente dos confins frios do Sistema Solar, de modo que foram necessárias imagens rápidas para descobrir: quando é que o recém-descoberto cometa começaria a mostrar uma cauda?
O Observatório Las Cumbres foi capaz de determinar rapidamente se o objeto se havia tornado um cometa ativo nos três anos desde que foi visto pela primeira vez pelo DES.
“Dado que o novo objeto estava bem para sul e era muito fraco, sabíamos que não haviam muitos outros telescópios que pudessem observá-lo,” disse o Dr. Tim Lister, cientista do Observatório Las Cumbres.
“Felizmente, temos uma rede de telescópios robóticos espalhados por todo o mundo, especialmente no hemisfério sul, e fomos capazes de obter imagens rapidamente graças aos nossos telescópios na África do Sul,” explicou Tim Lister.
As imagens de um dos telescópios de um metro, situado no Observatório Astronómico da África do Sul, chegaram por volta das 21:00 PDT de dia 21 de junho (08:00 de terça-feira dia 22, em Portugal).
Astrónomos da Nova Zelândia, membros do projeto LOOK (LCO Outbursting Objects Key), foram os primeiros a observar o novo cometa.
“Como somos uma equipa espalhada por todo o mundo, simplesmente aconteceu ser a minha tarde, enquanto os outros dormiam. A primeira imagem mostrou o cometa escondido por trás do rasto de um satélite e fez doer o meu coração. Mas as outras eram detalhadas o suficiente e ‘woah’: lá estava ele, definitivamente uma linda manchinha difusa, nada nítido como as estrelas no campo de visão!”, disse a Dra. Michele Bannister da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia.
A análise das imagens do Observatório Las Cumbres mostrou uma cabeleira difusa em torno do objeto, indicando que estava ativo e era, de facto, um cometa, embora ainda esteja a uma distância notável de aproximadamente 2,9 mil milhões de quilómetros, o dobro da distância de Saturno ao Sol.
O cometa tem um diâmetro estimado em mais de 100 km, mais de três vezes o tamanho do recordista anterior de maior núcleo cometário, o Cometa Hale-Bopp, descoberto em 1995.
Este cometa não deverá ficar visível a olho nu: permanecerá um objeto telescópico porque a sua menor distância ao Sol será ainda para lá de Saturno. Dado que o Cometa C/2014 UN271 foi descoberto tão longe, os astrónomos terão mais de uma década para o estudar. Este atingirá o periélio em janeiro de 2031.
Assim sendo, Tim Lister e os demais astrónomos do Projeto LOOK terão bastante tempo para usar os telescópios do Observatório Las Cumbres para estudar C/2014 UN271.
O Projeto LOOK continua a observar o comportamento de um grande número de cometas e como a sua atividade evolui à medida que se aproximam do Sol. Os cientistas também estão a usar a capacidade de resposta rápida do Observatório Las Cumbres para obter observações muito rapidamente quando um cometa dá início à sua atividade.
“Há agora um grande número de levantamentos, como o ZTF (Zwicky Transient Facility) e o próximo Observatório Vera C. Rubin, que monitorizam partes do céu todas as noites. Estes levantamentos podem fornecer alertas caso um dos cometas mude subitamente de brilho. De seguida, podemos acionar os telescópios robóticos para obtermos dados mais detalhados e uma visão mais longa do cometa em mudança enquanto o levantamento se desloca para outras áreas do céu,” explica Tim Lister.
“Os telescópios robóticos e o software sofisticado do Observatório Las Cumbres permitem-nos obter imagens de um novo evento até 15 minutos após um alerta. Isto permite-nos realmente estudar estes surtos conforme evoluem.”, acrescentou.
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