A decisão — que já tinha sido tomada em 2016 mas só agora foi executada — está a ser interpretada como um esforço por parte de Joe Biden para reduzir o número de indivíduos detidos em Guantánamo, que se cifra atualmente em 39.
A administração liderada por Joe Biden transferiu o primeiro prisioneiro detido em Guantánamo, um homem na casa dos 50 anos que deverá ser repatriado para Marrocos nas próximas semanas. A decisão das entidades oficiais já tinha sido tomada em 2016, mas o indivíduo acabou por permanecer no complexo prisional durante todo o mandato de Donald Trump.
De acordo com informações disponibilizadas pelo Pentágono, a detenção de Absullatif Nasser já não tida como necessária para a segurança nacional dos Estados Unidos, pelo que o Periodic Review Board recomendou a autorização do seu repatriamento.
A decisão — e o seu anúncio — estão a ser interpretadas como um esforço por parte de Joe Biden para reduzir o número de indivíduos detidos em Guantánamo, que se cifra atualmente em 39. Tal como aponta o The Guardian, a transferência de prisioneiros era também uma política defendida por George W. Bush e Barack Obama, tendo o processo estagnado quando Donald Trump assumiu a presidência.
Em 2016, o magnata fez mesmo saber que não iriam acontecer mais libertações. “Estas são pessoas extremamente perigosas e não deve ser permitido o seu regresso aos campos de batalha”, disse na altura.
A hipótese levantada por Trump é um dos argumentos mas usados nas discussões em torno da libertação de prisioneiros de Guantánamo. Segundo informações reveladas, em 2016, pelo gabinete do diretor da Inteligência Nacional norte-americana, 17% dos 728 detidos que acabariam libertados retomaram a atividade criminosa enquanto 12% são suspeitos de o fazerem.
Ainda assim, a grande maioria destas casos aconteceu com prisioneiros que não passaram pela revisão de segurança criada durante a era de Obama. Uma taskforce que integrou agências como o Departamento de Defesa e a CIA analisou os cadastros dos detidos em Guantánamo e determinou quem poderia ser libertado e quem deveria continuar encarcerado.
Nas reações que se seguiram à libertação de Absullatif, os EUA agradeceram a Marrocos por ter facilitado o processo de transferência.
“Os Estados Unidos elogiam o reino de Marrocos pela sua parceria de longa data na garantia dos interesses de segurança nacional de ambos os países”, afirmou, em comunicado, o Pentágono. “Os Estados Unidos estão também extremamente gratos pela vontade do Reino Unido de apoiar os esforços em curso dos EUA para encerrar o centro de detenção da Baía de Guantánamo.”
O cidadão marroquino foi informado pelo seu advogado no verão de 2016 que iria ser libertado de Guantánamo e que poderia regressar a casa. Na altura, o Absullatif achou que o referido regresso aconteceria em breve. “Pensei, ‘eu estive aqui 14 anos, por isso, mais alguns meses não são nada’.” Um pensamento que não poderia estar mais longe da realidade.
Absullatif Nasser fez parte do grupo marroquino não violento, o Moroccan Sufi Islam, durante a década de 80. Em 1996, foi recrutado para combater na Chechénia, mas acabaria no Afeganistão, onde treinou com a Al-Qaeda. Seis anos mais tarde, em 2002, foi capturado por forças americanas após combates em solo afegão e levado para Guantánamo.
Durante os 14 anos em que esteve detido, Absullatif Nasser estudou matemática, ciências computacionais e inglês, tendo mesmo criado um dicionário de duas mil palavras de árabe-inglês, afirmou um oficial militar americano — cuja identidade não foi revelada — designado para representar Absullatif quando o seu caso foi apresentado perante a comissão que decidiu o seu destino.
O mesmo oficial informou a comissão que o prisioneiro estava “profundamente arrependido pelas acções do seu passado” e expressou confiança de que o cidadão marroquino se reintegraria na sociedade.