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Já se sabe por que é que alguns peixes têm sangue quente

kenbondy / Flickr

Carcharodon carcharias, conhecido pelo nome comum de tubarão-branco

Os cientistas já sabem por que é que alguns peixes têm sangue quente — característica comum a apenas 35 espécies.

Os cientistas sabem, há mais de 50 anos, que, apesar da sua reputação, nem todos os peixes têm sangue frio. Algumas espécies de tubarão e atum — o tubarão branco e o atum-rabilho do Atlântico — desenvolveram a capacidade de aquecer partes do corpo, como músculos, olhos e cérebro.

Cerca de 35 espécies de peixes — menos de 0,1% — têm essa habilidade, que lhes permite ficar mais quentes do que a água ao seu redor. Até recentemente, no entanto, o motivo pelo qual essa aptidão surgiu era um mistério.

Alguns cientistas acreditam que ter sangue quente permite que os peixes nadem mais rápido, já que músculos mais quentes tendem a ser mais poderosos. Outros pensam que isso lhes permitia viver numa faixa mais ampla de temperaturas, tornando-os menos suscetíveis aos efeitos do aquecimento do oceano causado pelas alterações climáticas.

Com isto em mente, uma equipa internacional de biólogos marinhos propôs dar uma resposta ao quebra-cabeças.

Um novo estudo, publicado na revista Functional Ecology, descobriu que a capacidade dos peixes aquecerem os seus corpos oferece vantagens competitivas — podem nadar mais rápido do que seus parentes de sangue frio.

No entanto, isso não significa necessariamente que serão mais capazes de se adaptar às mudanças nas temperaturas do oceano do que peixes de sangue frio, mostram os resultados.

A equipa de investigadores recolheu dados de tubarões selvagens e peixes ósseos, além de usar dados já existentes e afixaram-se dispositivos biológicos às barbatanas dos animais que capturavam. Os animais eram apanhados com linha e anzol e presos ao lado de um barco. Isto permitiu anexar os dispositivos e libertar os animais imediatamente.

Estes dispositivos recolheram informações como as temperaturas da água encontradas pelos peixes nos seus habitats, as velocidades a que os peixes nadaram durante a maior parte do dia e as profundidades da água em que nadaram.

Comparando os dados de velocidade e temperatura destes animais de sangue quente e frio, os investigadores puderam calcular a amplitude de temperatura em que esses animais nadavam e a que velocidade nadavam, tendo em consideração o seu peso.

Acontece que peixes de sangue quente podem nadar 1,6 vezes mais rápido do que peixes de sangue frio. Esta é uma das primeiras evidências diretas da vantagem evolutiva de ter sangue quente.

Esta velocidade extra oferece vantagens quando se trata de aspetos como predação e migração. É provável que isto os torne melhores caçadores ou viajantes. As velocidades de nado mais rápidas também ajudam os peixes a identificar a presa. Quanto mais rápido eles nadam, mais rápido uma imagem se move nos seus olhos, permitindo que a processem e identifiquem — talvez de uma presa — mais rápido.

Já foi sugerido que estes peixes de sangue quente podem ser mais capazes de lidar com as mudanças na temperatura ambiente ao estabilizar a temperatura do corpo. Isto seria útil nos cenários atuais de alterações climáticas, como o aquecimento global dos oceanos.

Pode ser o caso. Mas os resultados deste novo estudo indicam que a capacidade de aquecer os seus corpos não lhes permite ocupar uma temperatura ou faixas de profundidade mais amplas. Isto significa que podemos estar a exagerar a resiliência dos peixes de sangue quente para enfrentar as mudanças nas temperaturas do oceano.

Muitos desses animais já enfrentam ameaças do aquecimento do oceano e riscos induzidos pelo homem. O atum-rabilho do Atlântico é uma espécie ameaçada de extinção, enquanto o tubarão branco é classificado como vulnerável.

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