Investigadores descobriram algumas classes de terapêuticos que destroem as células tumorais fibrolamelares que crescem em ratos e testaram-nas em células humanas extraídas de tumores.
As opções de tratamento para o cancro do fígado mortal, chamado carcinoma fibrolamelar, são muito escassas.
Os medicamentos que funcionam noutros cancros do fígado não são eficazes no carcinoma fibrolamelar e, embora tenham sido feitos progressos na identificação dos genes específicos envolvidos na condução do crescimento de tumores fibrolamelares, estas descobertas ainda não se traduziram em qualquer tratamento.
Por enquanto, a cirurgia é a única opção para as crianças e jovens adultos, sem condições hepáticas anteriores.
“Há pessoas que precisam de terapia já”, disse Sanford M. Simon, chefe do Laboratório de Biofísica Celular da Universidade Rockefeller, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
“Decidimos ser completamente agnósticos sobre o que pensávamos que iria funcionar – tentámos de tudo. Para nossa surpresa, encontrámos alguns compostos que funcionam muito bem”, acrescentou.
Assim, a sua equipa testou mais de cinco mil compostos, já aprovados para outras utilizações clínicas ou em ensaios clínicos, para ver se algum poderia ser reaproveitado para tratar tumores fibrolamelares.
Num mundo ideal, os cientistas realizam extensas experiências para identificar o alvo terapêutico perfeito para uma doença e depois testam um conjunto de medicamentos em sistemas modelo para identificar opções de tratamento promissoras para atingir o alvo escolhido.
O Laboratório de Biofísica Celular da Universidade Rockefeller está a realizar essas experiências, mas o processo pode levar anos, e as crianças e os jovens adultos que estão agora doentes poderão nunca usufruir das descobertas.
Por isso, Simon adotou uma abordagem paralela e expedita: depois de testar uma extensa biblioteca de medicamentos em células tumorais fibrolamelares cultivadas em ratos ao longo de vários meses, a sua equipa identificou algumas novas classes terapêuticas que parecem matar eficazmente as células tumorais fibrolamelares.
Além disso, outras experiências forneceram algumas explicações moleculares sobre a razão pela qual estes medicamentos são tão eficazes contra uma doença que, até agora, tem confundido os médicos que tratam o cancro do fígado.
“Até agora, tive de dizer aos pacientes que não temos quaisquer medicamentos que funcionem comprovadamente”, disse Michael V. Ortiz, oncologista pediátrico do Memorial Sloan Kettering Cancer Center e coautor do estudo.
“É realmente emocionante que tenhamos finalmente alguns medicamentos promissores para testar em ensaios clínicos. E, uma vez que cada indivíduo responde de forma diferente, é particularmente excitante que tenhamos tido múltiplos resultados, que agora podemos testar em combinação uns com os outros”, continuou.
Com base nestas descobertas iniciais, os investigadores testaram os compostos diretamente em células humanas que foram retiradas de tumores de doentes e conseguiram testar as células contra a sua linhagem de candidatos a fármacos após crescerem durante apenas alguns dias, obtendo resultados semelhantes aos observados em células que demoraram meses a crescer.
“Dentro de três dias, podemos ter dados terapêuticos informativos, o que é muito mais rápido do que os métodos anteriormente permitidos”, disse Gadi Lalazar, autor principal do artigo.
De acordo com Lalazar, embora existam alguns obstáculos logísticos, “isto pode ser potencialmente transformador para o tratamento de certos cancros”
Os resultados sugerem que pode ser desnecessário testar candidatos a medicamentos em células cultivadas em ratos antes de os testar diretamente em células humanas, escreve a Futurity.
Dados estes resultados, os médicos poderão em breve ser capazes de biopsiar células de um tumor de um paciente e submeter essas células a um conjunto de candidatos a medicamentos até encontrarem o composto mais eficaz para esse paciente específico. Assim, podem ter o plano de tratamento pronto numa questão de dias – transformando o cenário da medicina de precisão.
“Não queremos dar a todas as pessoas que coxeam o mesmo tratamento – queremos que seja ‘precisamente direcionado’ com base no facto de terem torcido o tornozelo, partido um osso, ou apenas terem uma lasca”, disse Simon.
As descobertas foram publicadas na revista científica Cancer Discovery.