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Plano de Recuperação de Aprendizagens. Escolas querem mais professores e temem “asneiras” do Governo

Hugo Delgado / Lusa

O Governo apresenta, nesta terça-feira à tarde, o Plano de Recuperação das Aprendizagens perdidas durante o ensino à distância forçado pela pandemia de covid-19. Entre os directores de Escolas e os professores, há desconhecimento e expectativa quanto às medidas do Executivo, mas também muita desconfiança.

Intitulado “Plano 21 | 23 Escola +”, o Plano de Recuperação de Aprendizagens foi elaborado por um grupo de trabalho depois de um estudo sobre o impacto do primeiro confinamento no ensino.

Esse estudo concluiu que mais de metade dos alunos não conseguiu atingir os níveis esperados em conhecimentos elementares a Leitura, Matemática e Ciências, segundo as provas realizadas pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) a mais de 23 mil alunos dos 3º, 6º e 9º anos de escolaridade.

Assim, o Governo apresenta, nesta terça-feira, um Plano para recuperar o que os alunos perderam no ensino e que deverá ser implementado nas escolas durante os dois próximos anos.

O presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (Andaep), Filinto Lima, constata que esta entidade desconhece o documento elaborado pelo Governo, mas alerta, desde já, que “não pode ser um documento prescritivo” que surja como “um facto que o Ministério da Educação vai impor às suas escolas”.

Em declarações à TSF, Filinto Lima salienta que o Plano “tem de ser um documento com base em recomendações, com base em sugestões, orientações” para ser adaptado à realidade e às circunstâncias das 111 escolas públicas portuguesas.

Assim, este responsável frisa que seria “uma asneira” não o tornar um “documento flexível“.

A título de exemplo, fala do agrupamento de escolas a que pertence, em Vila Nova de Gaia, onde diz estar “preocupado com o primeiro ciclo”. “Os alunos do primeiro e segundo anos, idades mais jovens e alunos muito menos autónomos, são os que mais perderam em contexto de confinamento”, diz.

Contudo, outros professores de outras escolas podem “querer reforçar as aprendizagens noutra área, noutro ano de escolaridade”, salienta.

Há muitos professores “à beira de Burnout”

Do lado dos professores existe a mesma desconfiança, com o coordenador nacional do Sindicato de Todos os Professores (STOP), André Pestana, a vincar, em declarações ao Diário de Notícias (DN), que “tudo indica que é, mais uma vez, uma decisão unilateral do Ministério da Educação”.

“É mais um exemplo de prepotência a que nos têm habituado”, salienta ainda André Pestana, notando que o Sindicato não foi chamado a participar na elaboração do Plano de Recuperação de Aprendizagens.

Assim, o coordenador do STOP constata que não tem “razões para estar com grande optimismo”.

André Pestana também aproveita para lembrar ao Ministério da Educação que “nem os professores, nem os alunos são máquinas”. “Não se consegue recuperar aprendizagens sobrecarregando os sujeitos que já estão cansados depois de 2 anos atípicos“, frisa, apontando que “há um número significativo de professores à beira de Burnout e não se pode ignorar essa realidade”.

Escolas querem “mais recursos humanos”

Neste mesmo sentido, Filinto Lima realça que as escolas precisam de “mais recursos humanos” para implementar o Plano, conforme declarações ao DN.

O presidente da Andaep também refere que as escolas devem poder “aumentar o crédito horário que os agrupamentos podem atribuir aos professores, bem como mais técnicos especializados, como psicólogos, mediadores”, entre outros.

“Este ano lectivo já foram contratados mais 900 técnicos, mas no próximo ano o número tem de crescer“, salienta Filinto Lima, frisando que estes profissionais “fazem um trabalho de rectaguarda muito importante”.

O responsável também aponta que as escolas já estão “a implementar medidas para recuperação de aprendizagens”, mas destaca que “os próximos dois anos vão ser de mais trabalho na Educação e na saúde mental dos nossos jovens“.

O estudo do IAVE veio confirmar que o processo de ensino e de aprendizagem à distância, durante os períodos de confinamento provocados pela pandemia, causou disparidades entre os alunos de diferentes escolas.

Várias outras pesquisas têm alertado para o facto de a pandemia ter agravado ainda mais o fosso entre os alunos carenciados e privilegiados, uma vez que além dos equipamentos informáticos, que alguns estudantes não têm, é preciso ter também condições em casa para se poder assistir às aulas.

Nos últimos meses surgiram várias sugestões para recuperar as aprendizagens, como escolas de verão ou tutorias nas escolas, mas apenas hoje serão conhecidas as medidas que o Governo vai levar a cabo.

ZAP // Lusa

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