Suu Kyi comparece em tribunal, a primeira vez que aparece em público desde o golpe militar

Comune Parma / Wikimedia

Aung San Suu Kyi

A líder deposta de Myanmar compareceu em tribunal, esta segunda-feira, tendo sido a primeira vez que apareceu em público desde o golpe de Estado de fevereiro.

Pouco antes da audiência realizada em Naypyidaw, Aung San Suu Kyi – em prisão domiciliária desde o golpe – “desejou que o seu povo continue de boa saúde” e “afirmou que a LND (Liga Nacional para a Democracia) existirá enquanto existir o povo, porque foi fundada pelo povo”, disse à agência France-Presse o advogado da ex-líder, Min Min Soe.

A ex-chefe de facto do Governo civil em Myanmar (ex-Birmânia), que até agora só tinha estado presente em tribunal por videoconferência, teve permissão para falar diretamente com a sua equipa de defesa.

“Encontrámo-nos por 30 minutos”, disse o advogado Min Min Soe à AFP. “Aung San Suu Kyi parecia saudável e totalmente confiante”, acrescentou.

Na sexta-feira, a Comissão Eleitoral, nomeada pela junta militar, anunciou que vai extinguir a Liga Nacional para a Democracia (LND), por ter cometido “fraude eleitoral” durante as legislativas de novembro passado. Também já tinha sido essa a justificação para o golpe militar que destituiu o Executivo liderado por Suu Kyi.

A LND, legalmente dirigida desde 2015 por Suu Kyi (existia antes mas estava banida), voltou a vencer por larga margem as legislativas, arrasando o Partido da Solidariedade e Desenvolvimento da União (USDP), vinculado aos militares. Este só obteve 24 lugares no Parlamento, face aos 368 deste partido.

A rede asiática para eleições livres (ANFREL), que participou nestas eleições como observador internacional, já rejeitou as alegações de fraude.

“Não encontrámos provas sobre a manipulação das eleições. Pelo contrário, cremos que os resultados constituem uma ampla representação da vontade do povo birmanês”, assinalou o observador Chung Lun.

Suu Kyi, vencedora do Nobel da Paz de 1991 devido à sua longa luta contra regimes militares anteriores em Myanmar, é uma das mais de quatro mil pessoas detidas desde o golpe de 1 de fevereiro.

A ex-líder enfrenta várias acusações, que vão desde a posse ilegal de walkie-talkies à violação de uma lei de segredos de Estado da era colonial. Se for considerada culpada, Suu Kyi pode ser banida da política e até mesmo condenada a vários anos de prisão.

Com a realização de manifestações de protesto contra a junta militar e a economia parcialmente paralisada devido às greves no país, Myanmar está em convulsão desde o golpe militar.

A repressão destas manifestações pelas forças de segurança já causaram a morte, nos últimos meses, a pelo menos 818 civis, incluindo mulheres e crianças, segundo a Associação de Assistência a Presos Políticos (AAPP).

Dezenas de milhares de civis também foram deslocados como resultado de confrontos entre o exército e as milícias étnicas, que são numerosas no país.

ZAP // Lusa

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