O primeiro-ministro, António Costa, e o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, foram recebidos esta segunda-feira em Valença do Minho por uma manifestação dos trabalhadores das Infraestruturas de Portugal, que exigem uma reunião com o Governo.
Por sua vez, comerciantes e empresários da região também presentes nos protestos pedem a reabertura imediata das fronteiras com a Galiza.
“Inaugurar obras com o suor dos outros é fácil, mas também deveria ser ético, pelo que quem nos governa tem de reconhecer e valorizar os trabalhadores que estiveram sempre presentes para que esta e outras inaugurações pudessem ser uma realidade”, lê-se numa nota distribuída pelos manifestantes à comunicação social.
António Costa e Pedro Nuno Santos marcaram presença na estação de caminho de ferro de Valença no final da viagem inaugural que assinalou a conclusão da eletrificação da Linha do Minho, no troço entre as duas cidades do Alto Minho, a capital de distrito, Viana do Castelo e Valença.
Tanto Costa como Pedro Nuno Santos falaram com elementos da Comissão de trabalhadores das Infraestruturas de Portugal. Segundo o Expresso, chegou mesmo a haver uma discussão acesa entre o ministro das Infraestruturas e os manifestantes.
Pedro Nuno Santos rejeitou a acusação da Comissão de Trabalhadores de não a receber e ouvir, dizendo que deve ser dos ministros que mais se reúne com os sindicatos.
“Se há coisa que eu faço é reunir com sindicatos e comissões de trabalhadores. Faço mais do que qualquer um já fez nesta função”, atirou o governante.
“Desde 2009 que não temos aumentos salariais, que nos empurram com a barriga para as Finanças e para as Infraestruturas. Não podemos aceitar mais isto”, disse por sua vez Fernando Semblano, porta-voz dos trabalhadores.
No discurso de António Costa, o primeiro-ministro destacou a “prioridade” do Governo à modernização da ferrovia, “o maior investimento dos últimos 100 anos em Portugal”, considerando que essa aposta “é uma revolução no transporte de mercadorias”.
“A enorme revolução que aqui temos é mesmo no transporte de mercadorias porque, com o aumento da frequência e a duplicação da dimensão dos comboios, nós triplicamos nesta linha a capacidade de transporte de mercadorias”, disse o chefe do Executivo.
O chefe de Governo, que viajou no comboio inter-regional que levou cerca de 43 minutos a fazer o percurso, adiantou que a aposta na ferrovia “é absolutamente decisiva para fortalecimento da capacidade e da competitividade desta grande região que é a Galiza e o Norte de Portugal”.
“A partir de hoje essa é uma realidade efetiva. É uma realidade que liga um grande porto de mar, que é o de Vigo, a um grande porto, que é o de Viana do Castelo , aliás agora beneficiado com novos acessos rodoviários, e ao porto de Leixões. Conseguimos ter aqui nesta frente atlântica um conjunto de grande infraestruturas portuárias servidas através da ligação ferroviárias”, reforçou o primeiro-ministro.
“Esta relação é muito importante do ponto de vista comercial, da restauração, da convivialidade. Vai continuar a densificar a interligação do tecido industrial entre o Alto Minho e Galiza”, afirmou no discurso de 23 minutos, com o som de fundo da manifestação contra o encerramento das fronteiras entre os dois países.
Costa disse “não ser por acaso que o Alto Minho tem sido das regiões do país que mais investimento estrangeiro atraiu e que mais postos de trabalho qualificado criou nos últimos anos”.
“Isso deve-se à grande sinergia entre o Alto Minho e a Galiza. Isso é da maior importância e essa foi a primeira opção estratégica. Investir nas ligações a Espanha, investir no transporte de mercadorias”, reforçou.
Para o primeiro-ministro, a “segunda opção estratégica” que levou o Governo a fazer “o maior investimento dos últimos 100 anos feito na ferrovia em Portugal” prende-se “com a compromisso de atingir, em 2050, a neutralidade carbónica, reduzindo em 55% as emissões de gases com efeito estufa até 2030”.
António Costa, abandonou a estação de Valença sem prestar declarações aos jornalistas e foi vaiado pelos manifestantes quando abandonou a estação de caminhos de ferro de Valença. Já o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, questionado pelos jornalistas, disse que a sinalização eletrónica na Linha do Minho vai estar concluída em 2022.
Daniel Costa, ZAP // Lusa