Governo dos Açores recorre a emigrantes nos Estados Unidos para conseguir vacinas

O Governo dos Açores vai desenvolver contactos junto de políticos e empresários de ascendência açoriana nos Estados Unidos da América para tentar que o país ceda ou venda vacinas contra a covid-19 à região.

“Vamos sensibilizá-los para que consigam interceder para que os Estados Unidos nos forneçam vacinas de um modo gratuito ou eventualmente até, através dos nossos empresários, conseguindo adquiri-las pagando, porque a saúde dos açorianos não tem preço”, afirmou o vice-presidente do executivo açoriano, Artur Lima.

Segundo o governante, esta decisão surge depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros ter recusado acionar o Acordo de Cooperação e Defesa entre Portugal e os Estados Unidos para solicitar a cedência de vacinas à região, alegando que não havia “base jurídica sólida”.

“A resposta do senhor ministro escusa-se em preciosismos jurídicos e não considera, em momento algum, a realidade específica dos Açores, que é um desafio suplementar no combate à covid-19. Para o Governo Regional dos Açores, esta é uma resposta não aceitável, demonstrativa da falta de solidariedade da República em relação à nossa região e ao nosso povo”, frisou.

Artur Lima defendeu, no entanto, que é possível acionar o Acordo de Cooperação e Defesa, alegando que, o artigo III do ponto J prevê a cooperação entre os serviços de saúde das Forças dos Estados Unidos e os serviços de saúde portugueses “na manutenção da saúde pública”.

“O Governo Regional dos Açores foi institucional e respeitador. O que esperávamos do senhor ministro é que, pelo menos, nos dissesse: eu vou desenvolver os esforços diplomáticos para vos ajudar. Refugiou-se em pormenores jurídicos. Deu-nos liberdade de irmos às nossas comunidades, aos nossos políticos de ascendência açoriana, aos nossos empresários pedir-lhes a ajuda para que possamos imunizar a população dos Açores”, apontou.

O vice-presidente do Governo Regional, da coligação PSD-CDS-PPM, mostrou-se confiante de que será possível conseguir vacinas para imunizar a população dos Açores através da influência da comunidade açoriana nos Estados Unidos.

“Como é público, os Estados Unidos já ofereceram vacinas a vários países. Eu acho que o Estado norte-americano, com a relação de amizade de décadas com os açorianos, não nos vai deixar ficar mal”, acrescentou.

Os Açores administraram até 15 de abril 66.557 doses de vacinas contra a covid-19 a 46.165 pessoas, das quais 20.392 com duas doses, o que significa que 18,7% da população já foi inoculada com pelo menos uma dose da vacina, segundo os censos de 2011.

O aumento de casos de infeção na ilha de São Miguel, nas últimas semanas, e a fragilidade do serviço regional de saúde, com hospitais em apenas três das nove ilhas do arquipélago, levam, no entanto, o executivo açoriano a pedir uma vacinação mais rápida.

“Efetivamente temos de imunizar e rapidamente a população dos Açores, porque começa a agravar-se a situação, embora dentro de níveis absolutamente controlados da pandemia. Temos de ter a preocupação de imunizar o mais rapidamente a população dos Açores”, salientou.

Antes do pedido ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, o presidente do Governo Regional dos Açores já tinha solicitado à Comissão Europeia um reforço de vacinas ao abrigo do estatuto de região ultraperiférica, mas igualmente sem sucesso.

“Recebemos a resposta da senhora comissária a dizer que isto era um assunto que cada um dos estados-membros devia gerir internamente. E, a resposta que tivemos é que tínhamos os 2,5% da nossa quota de vacinas disponíveis para os Açores”, lembrou Artur Lima.

Se a tentativa de sensibilização da comunidade emigrante nos Estados Unidos também não surtir efeito, o vice-presidente do Governo Regional admitiu recorrer a outras vias.

“Esgotaremos todas as possibilidades até conseguirmos e se conseguirmos vacinas que nos sejam faculdades pelos Estados Unidos estaremos encantados, mas também se conseguirmos adquirir por outro processo também estamos a avaliar essa questão. Nós somos cautelosos, somos institucionais e vamos passo a passo tentando resolver”, reforçou.

Os Açores têm atualmente 391 casos ativos de infeção pelo novo coronavírus que provoca a doença covid-19, dos quais 372 em São Miguel, 10 no Faial, cinco em Santa Maria, dois na ilha Terceira e um nas Flores.

Desde o início da pandemia foram diagnosticados na região 4.614 casos, tendo ocorrido 4.082 recuperações e 30 óbitos. Saíram do arquipélago sem terem sido dadas como curadas 68 pessoas e 43 apresentaram comprovativo de cura anterior.

// Lusa

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