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Proporção divina identificada na gerbera

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Descobrir como se formam os padrões distintos e omnipresentes das cabeças das flores tem intrigado os cientistas há séculos.

Quando se pede a alguém que desenhe um girassol, quase todas as pessoas desenham um grande círculo cheio de pétalas amarelas.

“Na verdade, essa estrutura é a cabeça da flor, ou capitulum, que pode ser composta por centenas de flores, também conhecidas como floretes. As ‘pétalas’ circundantes são floretes diferentes em estrutura e função dos mais próximos do centro”, explicou Paula Elomaa, da Faculdade de Agricultura e Silvicultura da Universidade de Helsínquia.

De acordo com o EurekAlert, esta inflorescência gigante é benéfica, uma vez que atrai os polinizadores. Mas a ordem dos floretes não é, de todo, aleatória: são padronizados em espirais regulares cujo número segue a sequência de Fibonacci, conhecida como proporção divina ou constante dourada.

Esta sequência é uma sucessão de números inteiros, começando por 0 e 1, na qual cada número é a soma dos dois anteriores. Depois do 0 e 1, a sequência prossegue com os números 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144… até ao infinito. E quando dividimos um número pelo anterior, obtemos a famosa constante dourada.

Esta constante, normalmente associada à beleza, pode ser encontrada no mundo natural, como em colmeias ou conchas, bem como em variadas obras de arte. Acredita-se que o número dourado tenha sido utilizado para projetar o Partenon, um templo dedicado à deusa Atena construído durante século V a.C na Acrópole de Atenas, na Grécia Antiga.

Na cabeça da flor, o número de espirais à esquerda e à direita é sempre dois números de Fibonacci consecutivos. Os girassóis podem ter até 89 espirais à direita e 144 à esquerda, enquanto a gerbera, outra planta muito estudada da família Asteraceae, tem menos espirais (34/55).

Recentemente, e pela primeira vez, os cientistas analisaram, a nível molecular, como os primórdios florais são modelados em espirais no ponto de crescimento, ou meristema, das gerberas. A equipa teve à sua disposição uma solução técnica cuja utilização na ciência das plantas só poderia ser sonhada há algumas décadas.

O resultado final foi um modelo de computador tridimensional que simula o padrão de uma cabeça de flor real. A equipa descobriu que o meristema da gerbera é padronizado no nível molecular já num estágio em que nenhuma mudança é discernível, até mesmo por um microscópio eletrónico.

Durante o crescimento, os níveis de auxina – a hormona vegetal que determina a posição dos primórdios – aumentam ao máximo em vários locais do meristema.

“O número desses pontos agrupados, chamados de máximos de auxina, aumenta rapidamente à medida que o diâmetro do meristema cresce, seguindo a sequência de Fibonacci“, explicam os cientistas.

“Um novo máximo de auxina é sempre formado entre dois máximos vizinhos e move-se de modo a que esteja sempre mais próximo do mais antigo dos vizinhos. É por isso que as espirais são regulares, mesmo em meristemas que não são totalmente simétricos.”

O estudo, publicado recentemente na Proceedings of the National Academy of Sciences, mostra que o crescimento da expansão do meristema é o fator que afeta, por exemplo, o eventual número de floretes na cabeça da flor.

Liliana Malainho, ZAP //

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