Uma em cada três pessoas recuperadas da covid-19 foi diagnosticada com uma doença neurológica ou perturbação mental nos seis meses após a infeção, concluiu um estudo que teve por base registos de mais de 230 mil doentes, sobretudo dos Estados Unidos (EUA).
Segundo os resultados do estudo, publicado na terça-feira na Lancet Psychiatry e divulgado pelo Público, perturbações de ansiedade (17%) e de humor (14%) são os diagnósticos mais comuns. Foram analisados os registos eletrónicos de 236.379 doentes, todos com mais de dez anos, infetados em 20 de janeiro de 2020 e ainda vivos a 13 de dezembro.
A incidência de uma doença neurológica ou perturbação psiquiátrica depois da infeção foi de 34%. Na pesquisa foram ainda detetadas perturbações por uso de substâncias (7%) e insónias (5%) e consequências neurológicas – 0,6% de hemorragias cerebrais, 2,1% de acidentes vasculares cerebrais isquémicos e 0,7% de demências.
O estudo revelou ainda que 2,7% dos doentes em unidades de cuidados intensivos e 3,6% com uma encefalopatia tiveram uma hemorragia cerebral, o que somente ocorreu em 0,3% dos pacientes que não foram hospitalizados.
Já 6,9% de pessoas em unidades de cuidados intensivos e 9,4% com uma encefalopatia tiveram acidentes vasculares cerebrais isquémicos – a incidência em pessoas que não foram hospitalizadas foi de 1,3%. Por fim, 1,7% de pessoas em unidades de cuidados intensivos e 4,7% com uma encefalopatia desenvolveram demências, o que se verificou em 0,4% dos doentes sem hospitalizações.
“Estes são dados do mundo real e de um grande número de doentes. Confirmam que há taxas elevadas de diagnósticos psiquiátricos depois da covid-19 e que transtornos graves também afetam o sistema nervoso”, disse em comunicado Paul Harrison, investigador da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e coordenador do estudo.
A equipa comparou ainda os resultados dos doentes com covid-19 com 105.579 doentes com gripe e 236.038 diagnosticados com infeções do trato respiratório, concluindo que havia um risco 44% maior de se ter um diagnóstico neurológico ou psiquiátrico depois de se contrair covid-19 do que depois da gripe. Verificou também que o risco era mais elevado 16% após a covid-19 do que com qualquer outra infeção do trato respiratório.
“Infelizmente, muitas das perturbações identificadas neste estudo tendem a ser crónicas ou recorrentes, por isso podemos antecipar que o impacto da covid-19 poderá ficar entre nós durante muitos anos”, indicaram os investigadores Jonathan Rogers e Anthony David, ambos da University College de Londres e que não participaram no estudo.