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Sanções, bloqueios comerciais e fome. Kim Jong-un não “baixa a cabeça” (nem desiste de filosofia Juche)

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(dv) KNS / KCNA

As sanções internacionais que a Coreia do Norte recebeu foram a gota de água para que se desencadeasse um cenário de caos no país. Da crise energética, à escassez de alimentos ou ao descontentamento das elites, Kim Jong-un está a desesperar, mas não dá o braço a torcer.

Numa reunião no mês passado, o líder da Coreia do Norte apontou o dedo ao Partido dos Trabalhadores e culpou-o pelo caos em que o país se encontra, já que o plano económico desenvolvido falhou “tremendamente”, visou Kim Jong-un.

O país está envolvido numa tempestade que já chegou ao Governo. Em janeiro, o ministro da Economia acabou por ser demitido, o que não surpreende grande parte dos analistas internacionais, que recordam que a Coreia do Norte está a passar pela pior recessão dos últimos 20 anos.

O caos económico deve-se a um conjunto de fatores que foram essencialmente impulsionados pelas sanções internacionais de que o país foi alvo e pela pandemia de covid-19 que fez com que o país aplicasse um bloqueio ao comércio internacional, na tentativa de manter o vírus afastado.

Assim, foram vários os produtos que deixaram de entrar no país, sobretudo os que vinham da China. A escassez de peças normalmente fornecidas por Pequim fez com que fábricas fechassem, incluindo uma das maiores produtoras de fertilizantes do país, prejudicando as centrais de energia, diz o The Washington Post.

Apesar de o país ter tido sempre uma conhecida escassez de eletricidade, este problema tem-se agravado nos últimos tempos. Desta forma, também a produção foi interrompida em algumas minas de carvão e outras.

“Sem materiais, matérias-primas e componentes importados, muitas empresas pararam e as pessoas perderam os seus empregos”, explica Alexander Matsegora, embaixador russo na Coreia do Norte, à agência de notícias Interfax.

Segundo o diplomata, em Pyongyang, as prateleiras estão vazias e é difícil comprar produtos básicos como massa, farinha, óleo vegetal, açúcar, roupa ou sapatos adequados.

Andrei Lankov, professor universitário natural da Rússia mas residente em Seul, classifica esta situação como uma “reviravolta dramática”.

O especialista recorda que em vários discursos, Kim Jong-un exigiu a restauração e fortalecimento do sistema onde a economia funciona “sob a direção e gestão unificada do Estado”, dando especial ênfase às indústrias de metal e química como o “principal elo de toda a cadeia do desenvolvimento económico”.

O líder norte-coreano também anunciou planos para expandir o controlo estatal, reprimir a cultura e os media estrangeiros e lançar uma “poderosa campanha contra as práticas que vão contra o estilo de vida socialista”.

Agora, todos os seus planos podem cair por terra, pois as indústrias que considerava ser o pilar da economia também estão a ceder aos sinais de crise.

Nas áreas mais rurais, há dias em que as famílias recebem apenas duas horas de eletricidade, avança o serviço de notícias Daily NK, com sede em Seul, enquanto a falta de fertilizantes pode agravar uma situação alimentar já precária.

Contudo, é a escassez de produtos em Pyongyang e o possível descontentamento entre as elites que deixam o líder mais preocupado, realçam os especialistas.

Filosofia “Juche”

Mesmo com vários setores económicos em queda, Kim Jong-un não desiste de tentar impor um total controlo estatal na sociedade.

“Fazer uma economia estalinista funcionar hoje em dia é tão desesperante como ensinar porcos a voar”, refere Lankov. “Kim provavelmente entende isso, mas também se sente inseguro quanto pensa que pode perder o controlo”.

Lankov relembra que o pai de Kim, Kim Jong Il, fechou as portas às empresas privadas e promoveu o controlo do Estado durante o seu governo. Agora, o filho pode estar a seguir o mesmo caminho.

Desde a década de 1990, a Coreia do Norte permitiu um certo grau de iniciativa privada de forma a evitar o colapso económico total, deixando que os comerciantes vendessem alimentos e bens de consumo nos mercados, e outros administrassem pequenos negócios. Desde que assumiu o poder, Kim expandiu discretamente essas liberdades em medidas “que foram claramente copiadas da China na década de 1980”, disse Lankov.

Porém, a atual mudança de Kim em direção ao planeamento central e à filosofia “juche” de autossuficiência é irreal, sobretudo numa economia que sempre dependeu das relações comerciais com a China, alertam os especialistas.

Lankov considera que, apesar da crise, é improvável que a Coreia do Norte mude a sua conduta. Na opinião do especialista, dificilmente se verá o líder do país a “baixar a cabeça” em Washington ou Seul na procura de algum tipo de ajuda.

Ana Isabel Moura, ZAP //

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1 Comment

  1. Num País com problemas económicos internos essencialmente derivados da pandemia, uma parte da comunidade internacional continua a fortalecer as sanções económicas, o que constitui um pleno contra senso, goste-se ou não do governo em funções soberanas.

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