Mais de 330 defensores de direitos humanos foram assassinados em 2020, revela relatório

Pelo menos 331 ativistas que promoviam a justiça social, ambiental, racial e de género em 25 países foram assassinados em 2020, enquanto outras dezenas foram agredidos, detidos e criminalizados por causa do seu trabalho, revelou um relatório divulgado esta quinta-feira.

Segundo noticiou o Guardian, a América Latina é a zona mais perigosa para os ativistas, contabilizando mais de três quartos de todos os assassinatos. Na Colômbia, onde são constantemente atacados por grupos armados, registaram-se 177 das mortes. Seguem-se na lista as Filipinas (25 assassinatos), Honduras, México, Afeganistão, Brasil e Guatemala.

Embora 69% das vítimas trabalhassem com o meio ambiente ou com os direitos dos indígenas, os ativistas transformaram-se também em alvos por auxiliarem no combate à covid-19 nas suas comunidades, de acordo com o relatório do Front Line Defenders (FLD).

Num ano em que muitos países implementaram medidas de contenção para controlar a pandemia, os ativistas têm ajudado na entrega de medicação e alimentos a doentes e idosos, preenchendo as lacunas dos governos. Apesar dessa assistência, enfrentam represálias que vão desde a prisão e assédio até à violência física e assassinato.

“A pandemia de covid-19 expôs muitas falhas nas muitas sociedades – como as desigualdades sistémicas e falhas dos governos em fornecer serviços eficazes aos seus cidadãos, o que às vezes é intencional”, disse o diretor da FLD, Ed O’Donovan.

“Os defensores dos direitos humanos e a sociedade civil têm preenchido essas lacunas – apesar de ainda serem alvos -, oferecendo serviços e uma visão alternativa para as sociedades”, acrescentou.

Para o responsável, não é surpresa que, nas Américas, os ativistas que trabalham com questões relacionadas à Justiça tenham sofrido o segundo maior índice de violência, estando somente atrás dos que trabalham com direitos indígenas e ambientais.

Narong Sangnak / EPA

O relatório mostrou igualmente que os ativistas que defendem os indígenas equivalem a quase um terço dos 331 mortos, embora esses povos representem 6% da população global; que um número significativo trabalhava para impedir projetos da indústria de extração; que 13% eram mulheres e seis transexuais.

Embora a pandemia tenha travado manifestações, os ativistas ajudaram a iniciar movimentos durante a última metade de 2020 em locais como a Polónia, a Bulgária, os Estados Unidos e em Hong Kong, apontou o relatório.

Os 331 assassinatos em 25 países em 2020 comparados aos 304 registados em 31 nações em 2019 mostram que a impunidade prevalece quando se trata de crimes contra ativistas, referiu Ed O’Donovan, acrescentando que Estados como Afeganistão, a Colômbia e o Peru foram dos principais responsáveis ​por esse aumento.

Este relatório foi divulgado na mesma semana em que a Amnistia Internacional acusou o governo do Reino Unido de não cumprir a sua promessa de proteger os ativistas no exterior. A análise revelou que profissionais de saúde, advogados, jornalistas e ativistas de direitos humanos em todo o mundo lutam para obter apoio das embaixadas britânicas.

A FLD destacou ainda a perseguição chinesa em relação aos membros da etnia uigur, que resultou em detenções em massa, trabalho forçado e esterilização de mulheres.

A vice-diretora da organização, Olive Moore, indicou que os números de 2020 demonstraram uma tendência para a violência contra ativistas e pediu que os defensores dos direitos humanos fossem incluídos no planeamento pós-covid dos governos e nas negociações climáticas da Cop26, agendadas para novembro deste ano.

“Embora 2020 tenha sido um ano difícil para todos, foi especialmente desafiador para os defensores dos direitos humanos, que se levantaram para enfrentar desafios sem precedentes. Enfrentaram ataques crescentes, insegurança económica e o impacto de doenças e mortes nas suas comunidades, mas trabalharam para preencher as lacunas deixadas pelas respostas insuficientes do governo”, sublinhou.

Taísa Pagno //

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