A Autoridade da Concorrência (AdC) acusou, esta sexta-feira, o Modelo Continente, o Pingo Doce, o Auchan e a Active Brands de concertarem preços entre 2008 e 2017.
A nota de ilicitude (acusação), emitida na terça-feira e hoje divulgada, põe fim à fase de inquérito e dá início à fase de instrução do processo, na qual é dada oportunidade às empresas visadas de exercerem o seu direito de audição e defesa em relação ao ilícito que lhes é imputado e à sanção em que poderão incorrer.
“A adoção da nota de ilicitude não determina o resultado final da investigação”, explica a Concorrência em comunicado, adiantando que concluiu existirem indícios de que as cadeias de supermercados “utilizaram o relacionamento comercial com o fornecedor Active Brands” (que integra o grupo económico Gestvinus/João Portugal Ramos), fornecedor de vinhos e bebidas brancas das marcas Licor Beirão e Porto Velhotes, “para alinharem os preços de venda ao público (PVP) dos principais produtos deste último, em prejuízo dos consumidores”.
À data da investigação, a Active Brands era fornecedora de vinhos e bebidas brancas, e, segundo a acusação, os comportamentos alegadamente ilícitos terão durado “vários anos, tendo-se desenvolvido entre 2008 e 2017”.
Na acusação é igualmente visado um diretor do fornecedor Active Brands e, segundo a AdC, “a confirmar-se, a conduta em causa é muito grave”, pois trata-se de uma prática, denominada “hub-and-spoke”, através da qual as cadeias de distribuição “recorrem a contactos bilaterais com o fornecedor para garantir, através deste, que todos praticam o mesmo preço de venda ao público no mercado retalhista.
“Esta é uma prática que prejudica os consumidores, privando-os da opção de escolha pelo preço dos produtos que compram na grande distribuição”, lembra o regulador no comunicado hoje divulgado, precisando que a acusação hoje divulgada integra o terceiro conjunto de casos de “hub-and-spoke” investigados em Portugal.
Em declarações ao site Dinheiro Vivo, fonte oficial do Pingo Doce já reagiu à acusação. “Perante a nota de ilicitude da AdC, o Pingo Doce repudia a acusação feita e vai contestá-la, não deixando de apresentar os seus argumentos num processo em que está seguro da sua conduta e do seu trabalho diário para levar até aos consumidores portugueses as melhores oportunidades de preço e promoções, e os maiores descontos”.
O mesmo site refere que a reação do Pingo Doce surge depois de o Modelo Continente também já ter repudiado a acusação da Autoridade da Concorrência.
Em junho passado, a AdC acusou da mesma prática três grupos da distribuição alimentar e um fornecedor de bolos e pães embalados e, um mês depois, emitiu uma nova acusação contra seis cadeias de supermercados e dois fornecedores de bebidas alcoólicas e não-alcoólicas. Em março de 2019, já tinha acusado da mesma prática seis grupos de distribuição alimentar e três fornecedores de bebidas.
“A AdC tem atualmente em curso mais de dez investigações no setor da grande distribuição de base alimentar, algumas ainda sujeitas a segredo de justiça”, diz ainda no comunicado, salientando que o setor alimentar representa “uma prioridade devido ao peso” que representa nos orçamentos das famílias.
ZAP // Lusa