A busca pelo Planeta Nove – um hipotético nono planeta no nosso Sistema Solar – pode resumir-se a localizar as trilhas orbitais mais ténues num canto incrivelmente escuro do espaço.
É exatamente isto que os astrónomos de Yale Malena Rice e Gregory Laughlin estão a tentar com uma técnica que recolhe luz de milhares de imagens de telescópios espaciais e identifica percursos orbitais para objetos previamente não detetados.
“Não os podemos ver sem usar este tipo de método. Se o Planeta Nove existir, será incrivelmente escuro,” disse Rice, autora principal de um novo estudo que foi aceite pela revista The Planetary Science Journal. Rice, estudante de doutoramento em astronomia, apresentou os seus achados dia 27 de outubro na reunião anual da Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade Astronómica Americana.
A possibilidade de um nono planeta no nosso Sistema Solar, localizado para lá da órbita de Neptuno, ganhou impulso entre os astrónomos nos últimos anos, quando examinaram as curiosas órbitas de um aglomerado de pequenos objetos gelados na Cintura de Kuiper. Muitos astrónomos pensam que o alinhamento destes objetos – e as suas trajetórias – apontam para a influência de um objeto invisível.
Embora a grande maioria da luz observada dos planetas no Sistema Solar seja luz refletida, a quantidade de luz solar refletida cai drasticamente para um planeta tão distante como o Planeta Nove, provavelmente 12 a 23 vezes mais distante do Sol do que Plutão.
A existir, o Planeta Nove seria uma super-Terra. Teria 5 a 10 vezes a massa da Terra e estaria localizado centenas de vezes mais distante do Sol do que a Terra e 14 a 27 vezes mais distante do Sol do que Neptuno, disse Laughlin, autor sénior do novo estudo e professor de astronomia na Faculdade de Artes e Ciências.
“Esta é uma região do espaço quase totalmente inexplorada,” disse Laughlin.
Para detetar objetos que de outra forma seriam indetetáveis, Rice e Laughlin empregam um método chamado “desvio e empilhamento”. “Desviam” imagens de um telescópio espacial – como mover uma câmara enquanto tira fotos – ao longo de conjuntos predefinidos de potenciais percursos orbitais. De seguida, “empilham” centenas destas imagens de forma a combinar a sua luz fraca.
De vez em quando, a luz revela o caminho de um objeto em movimento, como um asteroide ou um planeta.
Rice disse que o desvio e empilhamento têm sido usados no passado para descobrir novas luas no Sistema Solar. Esta é a primeira vez que o método é usado em grande escala para procurar uma ampla área do espaço. As imagens que ela e Laughlin utilizaram foram obtidas pelo TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite), um telescópio espacial normalmente usado para procurar planetas para lá do nosso Sistema Solar.
Os cientistas testaram o seu método procurando sinais de luz de três objetos trans-neptunianos conhecidos. De seguida, realizaram uma busca cega de dois sectores no Sistema Solar exterior que pudessem revelar o Planeta Nove ou quaisquer objetos da Cintura de Kuiper não detetados anteriormente – e detetaram 17 potenciais objetos.
“Se apenas um destes objetos candidatos for real, isso ajudar-nos-ia a entender a dinâmica do Sistema Solar exterior e as propriedades prováveis do Planeta Nove,” disse Rice.
“São informações novas e atraentes.” Ela está atualmente a trabalhar com o ex-pós-doutorado de Yale Songhu Wang, membro do corpo docente da Universidade de Indiana, para verificar os 17 candidatos usando telescópios terrestres.
Laughlin disse que a utilização bem-sucedida do desvio e empilhamento numa escala limitada abrirá o caminho para um levantamento em maior escala do Sistema Solar exterior, o que é particularmente atraente devido à possibilidade de encontrar um novo planeta. “Devemos seguir todas as pistas para descobrir mais informações,” disse Laughlin.
Rice disse que continua “agnóstica” acerca da existência do Planeta Nove e quer concentrar-se nos dados. “Mas seria incrível se realmente existisse,” concluiu.