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A pandemia veio interromper as touradas no Peru. Mas há quem não esteja muito satisfeito com isso

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Em poucos meses a pandemia do novo coronavírus conseguiu um feito há muito desejado por ativistas de todo o mundo: interrompeu as touradas. O cancelamento dos espetáculos – criticados pela sua violência para com os animais – aconteceu no Peru, país conhecido pelas suas grandiosas corridas.

O famoso festival Senor de los Milagros que se realiza anualmente na Praça de Touros de Acho de Lima, e que geralmente ocorre nos meses de outubro ou novembro, foi este ano cancelado devido às restrições impostas pelo Governo como forma de controlar a pandemia de covid-19 no Peru.

A arena Acho, que se situa no no bairro Rimac foi construída em 1766, e é uma das mais antigas do mundo, e a mais antiga da América. A praça de touros tem capacidade para 14.000 pessoas e está neste momento a ser usada para albergar uma causa maior. O recinto está a receber idosos reformados que são sem-abrigo e que foram apanhados pelo novo vírus.

Rafael Puga, que atualmente se dedica à criação de touros, refere que “não haverá touros este ano”. O ex-toureiro ganhou em 1973 o prémio máximo do festival Senor de los Milagros, o Escapulario de Oro, e recorda que esta é a primeira vez desde o início do festival, em 1946, que este é cancelado. No Peru, “há pelo menos 700 touradas por ano com 2500 touros mortos”, conta Puga.

Quem também lamenta o cancelamento dos espetáculos a nível mundial é Juan Manuel Roca Rey, que organiza corridas de touros na praça Acho. O peruano recorda que também em Espanha os espetáculos sofreram com a pandemia. “É a primeira vez que o festival de San Isidro em Madrid não é realizado. Mas é por uma força maior ”, sublinha.

As touradas foram trazidas para a América Latina pelos conquistadores espanhóis no século XVI e, desde então, tornou-se extremamente populares entre os peruanos de todas as classes sociais.

Touradas vs Futebol

O Peru tem até mais arenas de touradas do que propriamente estádios de futebol. Contudo, e mesmo contando com tantos adeptos, as corridas foram proibidas devido à pandemia que já matou mais de 34 mil pessoas no país, e infetou quase 900 mil.

Ao contrário do que acontece em Portugal, e em outros países do mundo, o futebol no Peru já teve início em agosto, depois de cinco meses em suspenso. No entanto, este deporto não tem despertado o interesse da população que preferia que o Governo voltasse a autorizar a presença de público nas praças de touros.

De acordo com estatísticas oficiais, o Peru tem 199 praças de touros. Este número contrasta com os apenas 80 estádios de futebol existentes no país da América Latina. Em muitos sites de touradas pode-se concluir que o dobro dos peruanos prefere pagar para assistir a corridas de touros, em vez pagar para ver futebol profissional.

Ainda assim, os bilhetes para entrar na Praça de Touros Acho custam mais do que os do estádio nacional de futebol. No ano passado, um bilhete para todas as cinco corridas de domingo durante o festival Senor de los Milagros podia ir até aos 1355 euros. Enquanto que o bilhete mais caro para ver os nove jogos das eliminatórias da Taça do Mundo do Peru era de 1160 euros.

A crise já chegou às arenas

“O fato de não haver touradas nas províncias é como a morte para os criadores. Alguns não deverão conseguir sobreviver porque o gado come todos os dias e isso tem custos”, recorda Juan Manuel Roca Rey. Também o toureiro Fernando Villavicencio defende que esta situação não afeta apenas os artistas, “mas a todos que trabalham para que uma tourada possa acontecer”.

Villavicencio realça que a proibição de espetáculos afetou os toureiros, mas também os costureiros que confecionam os fatos bordados, os proprietários dos estábulos onde ficam os cavalos, e os transportadores de gado. Por exemplo, na quinta de Puga, o criador tem 400 touros e 140 “vacas mães”.

“Nós, criadores de gado temos agora que viver de outros negócios. Alguns até mandam o gado para o matadouro para reduzir o gado ao mínimo e cortar custos”, disse Puga, que conta com uma pequena praça na sua quinta, onde os toureiros que se estão a iniciar na área podem praticar.

Uma conquista aos olhos dos ativistas

Contudo, o facto das corridas de touros continuarem suspensas, é um assunto que agrada aos ativistas dos direitos dos animais, que defendem que esta prática é um atentado à sua vida.

Luis Berrospi, um ativista que faz campanha contra as touradas e todo o outro tipo de corridas de animais, garante que o cancelamento dos espetáculos no país “é uma boa notícia. Não há razão para que as touradas continuem”.

Em fevereiro, no entanto, o Tribunal Superior do Peru rejeitou uma ação movida por ativistas dos direitos dos animais na esperança de proibir as touradas. Mais de 5000 pessoas assinaram uma petição exigindo a proibição de “todos os programas cruéis com animais”.

Porém, e segundo o RawStory, o Tribunal Constitucional decidiu que “não existe uma declaração universal dos direitos dos animais que tenha sido adotada pela ONU ou pela UNESCO”.

ZAP //

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