As eleições presidenciais que se vão realizar no próximo dia 3 de novembro nos EUA têm despertado o interesse dos eleitores, mas não só. São vários os países do mundo que estão de olhos postos na corrida à Casa Branca. E são os media internacionais que não têm poupado as críticas aos atual presidente, sobretudo à sua conduta nos últimos quatro anos.
Os assuntos políticos, de economia, tecnologia e até os de cariz militar dos EUA não são de interesse exclusivo do país. Estados como a China, Rússia e Irão – conhecidos por terem grande influência estatal nos media – estão especialmente atentos à disputa que reúne Donald Trump e Joe Biden.
De um modo geral a comunicação social destes três países tem perspetivas muito semelhantes no que diz respeito às eleições. E não têm poupado Donald Trump.
Segundo o The Conversation, em 2016, um dos principais temas que emergiram em torno das presidenciais foi o declínio da democracia nos Estados Unidos. Com o escândalo e a desilusão dos eleitores a dominar os media nacionais, os principais concorrentes dos EUA usaram as eleições de há quatro anos para avançar com as suas próprias perspetivas políticas.
Na sua primeira campanha eleitoral, Donald Trump era um desconhecido no que diz respeito a política. Embora os países reconhecessem a sua inexperiência política, foram cautelosos nas suas declarações e não subestimaram a capacidade do candidato de negociar. Os meios de comunicação russos foram particularmente otimistas quanto ao potencial do republicano.
Contudo, passados quatro anos de um mandato que tem levantado muita discórdia internacional, a atitude da Rússia, da China e até do Irão parece ter mudado.
Para avaliar como os estes países (tidos como concorrentes dos EUA) veem a atual campanha política dos dois candidatos à Casa Branca, o The Conversation analisou mais de 20 meios de comunicação chineses, russos e iranianos.
Observando as notícias que foram sendo dadas, os meios de comunicação realçam como momentos-chave da campanha de 2020 o primeiro debate presidencial (que ficou marcado por insultos e interrupções entre os dois candidatos) e o facto de Trump ter contraído o novo coronavírus.
Primeiro debate deu sinais de “turbulência política”
Após o primeiro debate entre Trump e Biden, os media chineses questionaram a atitude do democrata e quais as qualidades que este candidato poderia ter para se tornar presidente. Quanto ao atual presidente, os meios da China incidiram críticas negativas, e realçaram os momentos “caóticos” do debate que, segundo eles, podem representar “turbulência política”.
Os media chineses afirmaram que Donald Trump sabotou o seu próprio debate ao interromper o seu oponente. Biden foi criticado por ser incapaz de articular medidas concretas, mas mesmo assim foi elogiado por ser capaz de evitar grandes gafes.
Na Rússia, a comunicação social ficou surpreendida com o adversário de Trump. Ao contrário do que aconteceu em 2016, quando Hillary Clinton foi retratada como anti-russa, corrupta e elitista, os media russos, desta vez foram mais sóbrios com o Partido Democrata, e caraterizaram Biden de uma forma positiva.
Embora a postura pós-debate de Trump tenha recebido alguns comentários positivos, os media russos, em grande parte, lamentaram que no debate não tenham sido esclarecidas as medidas equacionadas pelo presidente para o seu futuro mandato.
No que diz respeito aos media iranianos, a postura anti-Trump está bem assente. Os iranianos defendem que Trump não teve sucesso a nível de política externa, e afirmam que apenas exacerbou as relações com os principais rivais do país. Contudo, consideram que Biden se destacou por manter a calma.
Presidente infetado depois de desvalorizar o vírus
O último mês da corrida presidencial dos EUA já é conhecido por surpresas de última hora que podem complicar as campanhas. Este ano o momento que já é habitual deu-se quando Donald Trump anunciou ao mundo que estava infetado com covid-19.
Os media internacionais foram pouco simpáticos com o presidente dos EUA, acusando-o de “desrespeito pelas medidas de saúde pública”, o que significa um verdadeiro falhanço no combate à pandemia, diz o The Convsersation.
Os meios de comunicação chineses sugeriram que Donald Trump usou o diagnóstico apara atrair eleitores. Por outro lado, na Rússia, os principais jornais desejavam rápidas melhoras e mostravam confiança na recuperação do presidente.
Ainda assim, os russos não esqueceram a atitude leviana com que o presidente tratou o vírus, criticando o comportamento pós-diagnóstico – como publicar tweets enquanto estava no hospital e violar a quarentena com aparições públicas.
Neste contexto, os media iranianos criticaram Trump de maneira mais direta. Alguns relatórios analisados caracterizaram Trump como “determinado a continuar a mesma abordagem”, apesar do seu diagnóstico. Os iranianos dizem que Trump não mostrou “qualquer simpatia” pelos milhares de americanos que morreram com a doença.
2016 vs 2020
Muitas das críticas lançadas pelos media internacionais aos candidatos em 2016, repetem-se agora. Contudo, desde as eleições de 2016 que a geopolítica mudou, e para muitos desses países, não necessariamente para melhor. Isto pode explicar melhor a maneira como Trump é retratado na maioria dos meios de comunicação.
Durante o primeiro mandato de Trump, os iranianos passaram pela retirada unilateral dos EUA do acordo nuclear com o Irão, a reimposição de sanções e o assassinato de um de seus principais generais.
Os chineses entraram numa guerra comercial com os norte-americanos, enquanto o governo dos EUA levantou acusações de roubo de propriedade intelectual, assassinato em massa e culpa pela disseminação do novo coronavírus, ao qual Trump chamou de “vírus da China”.
O facto de Trump não ter sido capaz de realizar a normalização das relações entre os EUA e a Rússia pode não ter sido muito favorável para o presidente. A pandemia covid-19 não só gerou inquietação na Rússia, mas a crescente instabilidade regional também está a piorar a imagem de Vladimir Putin como estratega.
O resultado de toda esta panóplia de acontecimentos nos últimos quatro anos, fez com que os meios de comunicação destes três países desviassem a atenção de uma ampla crítica à democracia dos EUA, e colocassem todos os olhares nos passos de Donald Trump.