A primeira missão da NASA a enviar uma amostra de um asteroide antigo chegou ao seu alvo, o asteroide Bennu, no dia 3 de dezembro de 2018.
Esta missão, OSIRIS-REX (Origins, Spectral Interpretation, Resource Identification, Security-Regolith Explorer), é uma viagem de sete anos que terminará com a entrega à Terra de pelo menos 60 gramas e possivelmente até quase 2 kg de amostras. Promete ser a maior quantidade de material extraterrestre trazido do espaço desde a era Apollo.
O aniversário dos 20 anos da descoberta do asteroide foi em setembro de 2019 – e os cientistas têm recolhido dados desde então. Aqui fica o que já se sabe (e o que esperamos descobrir) sobre este remanescente imaculado dos primeiros dias do nosso Sistema Solar.
1. É muito, muito escuro…
Bennu está classificado como um asteroide do tipo B, o que significa que contém uma grande quantidade de carbono em e juntamente com os seus vários minerais. O conteúdo de carbono de Bennu cria uma superfície no asteroide que reflete cerca de 4% da luz que o atinge – e isso não é muito. Em contraste, o planeta mais brilhante do Sistema Solar, Vénus, reflete cerca de 65% da luz solar incidente, e a Terra reflete cerca de 30%. Bennu é um asteroide carbonáceo que não sofreu uma mudança drástica de composição, o que significa que por baixo e à sua superfície mais escura que o breu, encontram-se substâncias químicas e rochas aquando do nascimento do Sistema Solar.
2. … e muito, muito antigo.
Bennu tem permanecido (principalmente) imperturbado durante milhares de milhões de anos. Não só está convenientemente perto e é convenientemente carbonáceo, como também é tão primitivo que os cientistas calculam que se formou nos primeiros 10 milhões de anos da história do nosso Sistema Solar – há mais de 4,5 mil milhões de anos. Graças ao efeito de Yarkovsky – o leve empurrão criado quando o asteroide absorve luz solar e reemite essa energia como calor – e a outros puxões gravitacionais de outros corpos celestes, tem vindo a aproximar-se cada vez mais da Terra a partir do seu provável local de nascimento: a cintura principal de asteroides entre Marte e Júpiter.
3. Bennu é um asteroide “pilha de entulho” – mas não se deixe enganar pelo nome.
Bennu é lixo espacial ou um tesouro científico? Embora “pilha de entulho” pareça um insulto, na verdade é uma classificação astronómica real. Asteroides tipo “pilha de entulho” como Bennu são corpos celestes feitos de muitos pedaços de detritos rochosos que a gravidade comprimiu juntos. Este tipo de detritos é produzido quando um impacto quebra um corpo muito maior (para Bennu, um asteroide parente com cerca de 100 km de diâmetro). Bennu, por outro lado, é quase tão alto quanto o Empire State Building. Provavelmente, foram precisas apenas algumas semanas para que estes fragmentos de destroços espaciais se aglutinassem na pilha de entulho que perfaz Bennu. Bennu está cheio de buracos internos, com 20 a 40% do seu volume sendo espaço vazio. O asteroide na verdade está em perigo de se fragmentar, se começar a girar demasiado depressa ou a interagir demasiado perto com um corpo planetário.
4. Os asteroides podem conter pistas sobre a origem de toda a vida na Terra…
Bennu é um artefacto primordial preservado no vácuo do espaço, orbitando entre planetas e luas e asteroides e cometas. Por ser tão antigo, Bennu pode ser feito de material contendo moléculas que estavam presentes quando a vida se formou na Terra. Todas as formas de vida na Terra são baseadas em carbono ligado a oxigénio, hidrogénio, azoto e a outros elementos. No entanto, o material orgânico como o tipo que os cientistas esperam encontrar numa amostra de Bennu nem sempre vem necessariamente da biologia. Permitiria, no entanto, mais investigação por parte dos cientistas para descobrir o papel que os asteroides ricos em material orgânico tiveram na catalisação da vida na Terra.
5. … mas também platina e ouro!
Joias extraterrestres devem ser impressionantes, e é provável que Bennu seja rico em platina e ouro em comparação com a crosta média da Terra. Embora a maioria não seja feita quase inteiramente de metal sólido (mas o asteroide 16 Psyche pode ser!), muitos asteroides contêm elementos que podem ser usados industrialmente em lugar dos recursos finitos da Terra. Estudar atentamente este asteroide dará respostas às perguntas sobre se a mineração de asteroides durante a exploração e viagens pelo espaço profundo é viável. Embora os metais raros atraiam mais atenção, a água é provavelmente o recurso mais importante de Bennu. A água (dois átomos de hidrogénio ligados a um átomo de oxigénio) pode ser usada para beber ou separada nos seus componentes para obter ar respirável e combustível para foguetões. Dado o alto custo de transportar material para o espaço, se os astronautas conseguirem extrair água de um asteroide para suporte de vida e combustível, o cosmos fica mais perto do que nunca de ser acessível aos humanos.
6. A luz do Sol pode alterar toda a trajetória do asteroide.
A gravidade não é o único fator envolvido no destino de Bennu. O lado de Bennu voltado para o Sol é aquecido pela luz solar, mas um dia em Bennu dura apenas 4 horas e 17,8 minutos, de modo que a parte da superfície voltada para o Sol muda constantemente. Conforme Bennu continua a girar, expele este calor, o que dá ao asteroide um pequeno empurrão em direção ao Sol que corresponde a aproximadamente 0,29 km por ano, mudando a sua órbita.
7. Há uma pequena chance de Bennu colidir com a Terra no final do próximo século.
A equipa do projeto LINEAR (Lincoln Near-Earth Asteroid Research), financiado pela NASA, descobriu Bennu em 1999. O Gabinete de Coordenação de Defesa Planetária da NASA continua a rastrear objetos próximos da Terra, especialmente aqueles como Bennu, que chegarão a cerca de 7,5 milhões de quilómetros da órbita da Terra e estão classificados como objetos potencialmente perigosos. Entre os anos 2175 e 2199, a chance de Bennu impactar a Terra é de apenas 1 em 2700, mas os cientistas ainda não querem virar as costas ao asteroide. Bennu voa pelo Sistema Solar num percurso que os cientistas previram com confiança, mas irão refinar as suas previsões com a medição do Efeito de Yarkovsky pela OSIRIS-REx e com observações futuras pelos astrónomos.
8. Recolher amostras de Bennu será mais difícil do que se pensava.
As primeiras observações terrestres do asteroide sugeriram que tinha uma superfície lisa com rególito (a camada superior de material solto, não consolidado) composto de partículas com menos de 2 cm – no máximo. À medida que a nave OSIRIS-REx obtinha imagens com cada vez mais alta resolução, tornou-se evidente que recolher amostras de Bennu seria muito mais perigoso do que se pensava anteriormente: novas imagens da superfície de Bennu mostram que está principalmente coberta por pedregulhos massivos, não pequenas rochas. A OSIRIS-REx foi construída para ser navegada até uma área em Bennu com quase 2000 metros quadrados, aproximadamente o tamanho de um parque de estacionamento para 100 carros. Agora, deverá manobrar-se para um local seguro à superfície rochosa de Bennu dentro de uma área restrita a menos de 100 metros quadrados, uma área com cerca de cinco lugares de estacionamento.
9. Bennu tem o nome de uma antiga divindade egípcia.
Foi um menino de nove anos, do estado norte-americano da Carolina do Norte, que deu o nome Bennu ao asteroide, quando ganhou em 2013 a competição “Name that Asteroid!”, uma colaboração entre a missão, a Sociedade Planetária e o levantamento de asteroides LINEAR que descobriu Bennu. Michael Puzio venceu o concurso, sugerindo que o braço TAGASM (Touch-and-Go Sample Mechanism) e os painéis solares da sonda assemelhavam-se ao pescoço e às asas nas ilustrações de Bennu, que os antigos egípcios costumavam ilsutrar como uma garça-cinzenta. Bennu é a antiga divindade egípcia ligada ao Sol, criação e renascimento – Puzio também observou que Bennu é o símbolo vivo de Osíris. O mito de Bennu adequa-se ao próprio asteroide, visto que se trata de um objeto primitivo que remonta à criação do Sistema Solar. Os temas da origem e do renascimento fazem parte da história deste asteroide. Os pássaros e as criaturas semelhantes a pássaros também simbolizam o renascimento, a criação e as origens em vários mitos antigos.
10. Bennu ainda surpreende!
A câmara de navegação da nave espacial observou que Bennu estava a expelir fluxos de partículas um par de vezes por semana. Aparentemente, Bennu não é apenas um raro asteroide ativo (até à data só foram identificados um punhado deles), mas possivelmente com Ceres, explorado pela missão Dawn da NASA, um dos primeiros do seu tipo que a humanidade observou com uma espaçonave. Mais recentemente, a equipa da missão descobriu que a luz do Sol pode quebrar rochas em Bennu, e que há pedaços de outro asteroide espalhados pela sua superfície. Mais peças vão continuar a ser adicionados ao quebra-cabeças cósmico de Bennu conforme a missão avança, e cada uma foca mais e mais a história evolutiva do Sistema Solar.
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