Na passada sexta-feira, a Netflix respondeu aos cinco senadores do Partido Republicano dos Estados Unidos da América que, numa carta, questionaram a decisão de adaptar a trilogia O Problema dos Três Corpos, a série literária de ficção-científica do escritor chinês Liu Cixin.
Numa carta direcionada à plataforma de streaming, os senadores republicanos, liderados por Marsha Blackburn, do Tennessee, mostraram-se preocupados com alguns comentários depreciativos feitos pelo escritor Liu Cixin em relação aos muçulmanos uigures.
“Temos preocupações significativas com a decisão da Netflix de se associar a alguém que está a repetir propaganda perigosa do PCC [Partido Comunista Chinês]”, escreveram os senadores na carta. “Diante de tais atrocidades [em Xinjiang], não existem mais decisões corporativas de complacência, apenas cumplicidade“, terminaram.
Em entrevista ao The New Yorker, há mais de um ano, Liu deu a sua opinião quanto os campos de concentração em Xinjiang: “Prefeririam que eles estivessem a cortar corpos em estações de comboios ou escolas em ataques terroristas? Pelo menos assim o governo está a ajudar a sua economia e a tentar retirá-los da pobreza.”
Liu acabou por, na mesma entrevista, defender o sistema que o governo chinês adotou, acreditando que seria um “inferno” caso a China se transformasse numa democracia. Os senadores ainda exigiram à Netflix explicações sobre a maneira como pensam adaptar a trilogia escrita por Liu Cixin.
A resposta firme da Netflix
Após a carta dos senadores estadounidenses, a plataforma de streaming decidiu responder de maneira firme e direta, reforçando que, apesar de Liu ser o escritor de O Problema dos Três Corpos, não será o criador da série desenvolvida pela Netflix.
“Os comentários do Sr. Liu não refletem as opiniões da Netflix ou dos criadores da série, nem fazem parte do enredo ou dos temas da série”, reforçou o vice-presidente de políticas públicas da Netflix, Dean Garfield, em resposta à carta dos senadores.
A plataforma ainda fez questão de realçar o facto de não partilharem e de não se identificarem com os comentários que Liu deu há um ano. “A Netflix julga projetos individuais perante o seu mérito. Liu é o autor do livro – O Problema dos Três Corpos – e não o criador desta série. Não concordamos com os seus comentários, que não têm qualquer relação com o seu livro ou com esta série da Netflix”, respondeu Garfield.
A PBS, tal como outras plataformas, partilhou um relatório sobre aquilo que se está a passar na China em relação os muçulmanos uigures.
De acordo com a sua publicação, existem, pelo menos, nove milhões de uigures em campos de concentração, onde são espancados, humilhados, forçados a quebrar os seus costumes culturais e expostos ao trabalho escravo. Soldados chineses nos campos de concentração foram também acusados de violar coletivamente as mulheres uigures.