O ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, classificou a queixa que o antigo assessor de Isabel dos Santos na Sonangol, Mário Leite da Silva, apresentou junto de reguladores internacionais como “ataques falsos e graves” que visam servir de defesa a “alguém em sérios apuros”.
Segundo noticiou na quainta-feira o ECO, o ex-vice-presidente de José Eduardo dos Santos reagiu dessa forma à queixa de Mário Leite da Silva sobre um “contrato falso” que terá lesado a Sonangol em 193 milhões de euros em 2005.
“Este contrato é falso e foi levado ao conhecimento oficial pelo Ministério Público de Angola num processo judicial de arresto contra as pessoas de Isabel dos Santos e seu marido Sindika Dokolo e contra a minha pessoa”, escreveu o antigo assessor na denúncia, a que a agência Lusa teve na quarta-feira acesso.
Na altura em que o contrato em causa foi firmado com a Amorim Energia, para entrada no capital da Galp, Manuel Vicente liderava a petrolífera. Para tal, a Sonangol constituiu com a Exem Energy, empresa de Isabel dos Santos, a ‘joint-venture’ Esperaza, ficando a petrolífera com 60% e a empresária com 40%.
A Esperaza passou depois a deter 45% do capital da Amorim Energia, que tem uma posição de 33,34% na Sonangol, levando os angolanos a controlar 15% da Galp. A Justiça angolana indica que o capital inicial da Esperaza, de 193 milhões de euros, foi investido na totalidade pela petrolífera, que reclama o valor correspondente à parte da empresária.
Manuel Vicente considerou que “a alegada falsificação de um contrato de suprimento entre a Sonangol e a Esperaza” é “uma imputação nitidamente falsa”, “sendo ilustrativa da má-fé e/ou dos interesses inconfessos dos seus autores”.
Mário Leite Silva referiu que a Esperaza foi adquirida em 2006 mas o contrato para entrada na ‘joint-venture’, que diz ser falso, “tem data do dia 30 de novembro de 2005” e terá permitido a retirada dos 193 milhões de euros da Sonangol.
Esta queixa “parece ter como objetivo servir a estratégia de defesa de alguém que estará, certamente, em sérios apuros”, sublinhou Manuel Vicente.
A carta de Mário Leite da Silva, que inclui mais de uma dezena de documentos, foi enviada de Lisboa a 11 de setembro para o Banco de Portugal, Banco Nacional de Angola, De Nederlandsche Bank, Banco Central Europeu, ABN AMRO Bank, Banco Comercial Português, Bank of America, Standard Chartered Bank e para o Parlamento Europeu.
O antigo assessor pede uma “averiguação reforçada” e urgente “às circunstâncias que dão contexto ao surgimento do referido ‘contrato’, de modo a apurar atos de natureza ilícita e quem foram os responsáveis”.