Behdad Esfahbod foi forçado a espiar para o Irão. O programador informático foi perseguido pelo regime após se ter recusado a fazê-lo. Agora, mantém o sonho de viver em Portugal.
Behdad Esfahbod é um engenheiro de software que esteve preso em Teerão, tendo sido forçado a espiar para o regime iraniano. O programador informático esteve em Lisboa entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano com a sua namorada, onde se apaixonou pela capital portuguesa.
Esfahbod viajou depois para Teerão, onde foi passar umas semanas de férias com a família. O timing coincidiu com a morte do general Qassem Suleimani num ataque aéreo dos Estados Unidos. Já na capital iraniana, Esfahbod foi abordado por quatro homens à civil, que o detiveram e levaram para a prisão de Evin.
“Eu sabia que não havia maneira de resistir à Guarda Revolucionária. Fui mantido numa cela solitária durante sete dias e interrogado diariamente durante 6 horas. Faziam-me as mesmas perguntas duas a três vezes por dia”, disse o programador ao Expresso.
“Ainda pedi para ter direito a um advogado, mas eles riram-se e responderam-me que aquele era um assunto de segurança nacional”, acrescentou.
Acabaria por ser libertado ao sétimo dia de deteção, mediante a condição de espiar para o regime iraniano. Foi-lhe pedido que fornecesse informações sobre ativistas antirregime que vivem no estrangeiro.
“Concordei com aquele acordo, feito sob ameaça. Tinha de sair daquele país com vida, para poder contar a minha história. E também para voltar para a minha companheira”, contou ao semanário.
À chegada aos Estados Unidos, onde trabalhava em Seattle, Esfahbod contou tudo o que se tinha passado às autoridades. Além disso, manteve-se afastado das redes sociais, com medo de que o Governo estivesse a vigiar aquilo que escrevia.
Em junho, começou a receber mensagens enigmáticas: “Olá, senhor engenheiro, recordas-te de mim?” e “Foste nosso convidado em Teerão e comemos kebab. Recordas-te? Falámos sobre Portugal, do teu trabalho e sobre o facto de ires para Portugal. Tenho algumas perguntas a fazer-te sobre a residência em Portugal”.
“Colocar tudo à mostra foi uma forma de pressioná-los a deixar-me em paz”, disse Esfahbod ao jornal britânico The Guardian. O programador nunca respondeu a nenhuma das mensagens que ia recebendo.
“Fiquei traumatizado. A minha saúde mental deteriorou-se. Estou agora a tentar recuperar de tudo”, disse o iraniano ao Expresso, admitindo que tem medo daquilo que possam fazer à sua família.
Ao Observador, o engenheiro informático confessa que tinha o plano de ir viver e trabalhar à distância para Lisboa: “Nós, a minha ex-parceira e eu, queríamos explorar o estilo de vida europeu, que tem bom clima e pessoas mais descontraídas e amigáveis”.
“No meio disto tudo, a relação que perdi, esse sonho de irmos para Portugal e construirmos uma nova vida romântica, nunca se materializou. Essa é a parte que ainda não consegui ultrapassar. Não sei o que vai acontecer”, desabafou, mantendo ainda a esperança de um dia vir para Portugal.