Milhares de estudantes tailandeses têm vindo a manifestar-se, no último mês, contra o governo e a monarquia tailandeses. Os jovens apelam a mudanças constitucionais, e garantem que apenas querem ter liberdade de expressão, num país que consideram estar em retrocesso político.
Nas escolas tailandesas, quando o hino nacional toca espera-se que os alunos fiquem parados em deferência, enquanto a bandeira do país é hasteada. Contudo, na semana passada, alguns estudantes aproveitaram o momento para enviar uma mensagem simbólica, levantando as mãos com três dedos.
Este gesto é cada vez mais usado pelo movimento pró-democracia que tem vindo a eclodir na Tailândia. Tem havido manifestações lideradas por estudantes quase todos os dias, e no último fim de semana, em Banguecoque, houve um protesto com a participação de mais de 10 mil pessoas.
Kanokrat Lertchoosakul, professora da faculdade de ciências políticas da Universidade Chulalongkorn, garante que nunca viu um fenómeno destes no país. “A sociedade tailandesa está muito surpreendida com o que está a acontecer. Para além de estudantes universitários, há também a participação de crianças nas manifestações”.
Os diferentes grupos usaram os meios de comunicação social para organizar manifestações em todo o país. Os estudantes têm-se mostrado revoltados com o seguimento da política interna nacional, sobretudo porque o governo é controlado por militares. Os jovens acreditam que esta realidade está a atrasar a democracia na Tailândia.
Os manifestantes pedem que o primeiro-ministro, Prayuth Chan-ocha, dissolva o parlamento, ponha fim à perseguição aos ativistas, e reformule a constituição do país, que foi escrita durante o regime militar. Alguns estudantes apelam a uma contenção do poder da monarquia, e do rei Maha Vajiralongkorn.
Prayuth aconselhou os manifestantes a não envolverem a monarquia nas manifestações, mas disse que vai levar em consideração algumas das preocupações apresentadas em relação à constituição.
Ainda assim, o grupo Thai Lawyers for Human Rights documentou 103 casos de estudantes que foram assediados ou impedidos de expressar opiniões políticas. Na semana passada, a UNICEF divulgou um comunicado a apelar que “o direito das crianças, e dos jovens à liberdade de expressão se mantenha intacto”.
Neste sentido, o ministro da educação da Tailândia, Nataphol Teepsuwan, comentou as reações dos jovens, dizendo que têm direito de expressar as suas opiniões.
Ainda assim, Kanokrat alega que a maioria das escolas estava a tentar impedir os protestos. “Numa sociedade conservadora, e moralista como a Tailândia, o poder de controlo dentro da escola está nas mãos dos educadores”, referiu a professora.
Nataphol, um aluno ativista, explica que os jovens só querem liberdade de expressão. “Queremos uma verdadeira democracia“, referiu. O jovem assume que no início teve medo de se manifestar, mas a sensação de querer lutar pelos seus direitos – e pela liberdade de todos – acabou por prevalecer.
Tattep Ruangprapaikitseree, secretário-geral do grupo de protesto Free People Movement, acredita que alguns ativistas estão a ser presos discretamente. “O governo está a tentar ganhar tempo ao prender ativistas um por um. Acham que o protesto vai acabar por se dissolver, mas estão errados.”