As duas vítimas mortais do acidente desta sexta-feira eram trabalhadores da máquina da REFER. Os passageiros descreveram o “choque violento” que fez o Alfa Pendular descarrilar.
Um Alfa Pendular descarrilou na tarde desta sexta-feira em Soure, Coimbra. O alerta foi dado às 15h30 e o acidente causou duas mortes, seis feridos graves e dezenas de feridos ligeiros.
“Lembro-me de um choque e do comboio a travar”, recorda José Correia, um dos passageiros do Alfa Pendular, em declarações à TSF. A meio da viagem sentiu o embate e o comboio “estava a desfazer-se” enquanto travava.
“Os bancos, as malas, tudo o que era ferros rebentou por todos os lados”, relatou o homem de 73 anos. “Muitas vezes um minuto são três e até pode ser mais, mas durante uns minutos largos houve pessoas em pânico”.
Correia conta que se partiram janelas para entrar ar, “porque estava tudo bloqueado, não se podia abrir as portas nem nada”. Com a chegada dos bombeiros e do INEM, as portas abriram-se e os passageiros foram saindo.
Alguns passageiros ouvidos no local pela TVI24 confirmam o choque violento com o veículo de conservação de catenária.
As duas vítimas mortais no descarrilamento de hoje em Soure eram os operadores da máquina da REFER contra a qual o comboio Alfa Pendular colidiu, afirmou o comandante Distrital de Operações de Coimbra.
O descarrilamento de um comboio Alfa Pendular, após colidir com uma máquina de trabalhos da REFER, provocou dois mortos, seis feridos graves e 19 feridos ligeiros, disse Carlos Luís Tavares, que fazia um ponto de situação no local.
De acordo com o comandante, as duas vítimas mortais eram os únicos ocupantes da máquina da REFER – Rede Ferroviária Nacional. Dos 212 passageiros do Alfa Pendular, registam-se seis feridos graves, sendo que nenhum corre risco de vida, acrescentou.
“Já evacuámos para diferentes hospitais dez vítimas. Não temos já qualquer passageiro no Alfa Pendular”, referiu, salientando que falta desencarcerar uma das vítimas mortais da máquina de trabalhos.
As vítimas ilesas foram encaminhadas para o Pavilhão Gimnodesportivo de Soure, onde estão a ser alvo de triagem por parte do INEM, retomando a sua viagem em Alfarelos, assim que tiverem alta, explicou.
Carlos Luís Tavares referiu que o número de vítimas mortais e feridos graves está “fechado”, podendo haver ainda algumas alterações quanto ao número de feridos ligeiros.
Segundo a médica do INEM Paula Neto, há duas crianças entre os feridos ligeiros, sendo que uma já foi transportada para o Hospital Pediátrico de Coimbra.
“Temos também as nossas equipas de apoio psicológico a acompanhar as pessoas que estão no Pavilhão Gimnodesportivo”, disse.
Maquinistas pedem sistema redundante de segurança
O presidente do Sindicato Nacional dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro Portugueses (SMAQ), António Domingos, defende a existência de um sistema redundante de segurança nas vias férreas.
António Domingos explica que o Alfa Pendular tem um sistema de controlo automático de velocidade, que supervisiona o cumprimento da sinalização e, caso as normas não sejam cumpridas, aciona o sistema de travagem automático, o que não acontece com as máquinas de manutenção que circulam na via.
“A dresine não tem esse equipamento que supervisiona a condução da tripulação. Se essa máquina de manutenção da via tivesse esse equipamento embarcado, provavelmente o acidente não se daria, isto numa primeira abordagem, sem conhecer pormenores”, disse António Domingos, em declarações à agência Lusa.
O presidente do SMAQ considera a ferrovia “um sistema seguro” e, embora realce que “o risco zero não existe”, entende que as condições podem ser melhoradas.
“É uma falha estas máquinas de manutenção não terem este sistema de supervisão, que é um sistema redundante de segurança, que permite suprimir falhas da tripulação. Evita ultrapassagens do sinal, que não sei se foi o caso”, acrescenta o presidente da estrutura sindical.
Tendo em conta os mecanismos de supervisão, António Domingos entende que, “à partida”, o Alfa Pendular circulava à velocidade permitida.
O presidente do SMAQ informou que o sistema, preparado para transmitir informações “a cada momento”, não deteta obstáculos na via, como é o caso da máquina de manutenção de catenárias, que estava “num local onde não devia estar”.
No caso de o maquinista se aperceber, não seria possível travar a tempo. “Num comboio a 180 quilómetros à hora, se o maquinista travar de emergência, demora mais de mil metros a imobilizar”, explica António Domingos.
O dirigente sindical espera que as causas e responsabilidades sejam apuradas através de um inquérito rigoroso. “Gostava era que houvesse um inquérito rigoroso, que fossem apuradas responsabilidades e que essas responsabilidades tenham efeitos a nível de quem permite certas situações, porque isto não pode acontecer”, enfatiza o presidente do SMAQ, António Domingos.
O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários vai investigar as causas do acidente.
ZAP // Lusa