/

Na aridez do deserto, os micróbios sobrevivem dissolvendo rochas com ácido

Racortesl / Flickr

Deserto do Atacama, no Chile

Uma equipa de cientistas conseguiu provar o mecanismo de sobrevivência das cianobactérias em ambientes hostis: obtêm a água que precisam para sobreviver de rochas que colonizam.

Até os lugares mais áridos do planeta podem sustentar vida, como é o caso do deserto do Atacama, no Chile. Como certas partes deste lugar podem passar vários anos sem uma única gota de água, os cientistas suspeitam de que as rochas podem conter pequenas quantidades de humidade.

No entanto, não estava claro de que forma os organismos conseguiam penetrar nas rochas para conseguir obter água. Agora, uma nova investigação alega ter identificado e desmistificado esta tática de sobrevivência.

Para David Kisailus, principal autor do artigo científico publicado recentemente na Proceedings of the National Academy of Sciences, o mecanismo é como se se estivesse a “tirar sangue a uma pedra”.

A equipa estudou a cianobactéria Chroococcidiopsis e gipsita, um mineral à base de sulfato de cálcio que contém água. As formas de vida colonizadoras existem sob uma fina camada de rocha que lhes dá uma certa proteção contra a alta radiação solar do deserto, a seca extrema e os ventos fortes.

Os cientistas recolheram amostras de gipsita do deserto do Atacama e analisaram-nas em laboratório, cortando-as em pequenos pedaços que abrigavam cianobactérias.

De acordo com o Massive Science, os cientistas descobriram que os microorganismos alteram a própria natureza da rocha que ocupam. Ao extrair água, causam uma transformação de fase do material: de gipsita em anidrita, um mineral desidratado.

No fundo, na análise das rochas sem bactérias, os cientistas confirmaram que eram, de facto, gipsita. No entanto, as rochas que apresentavam uma espécie de “gosma verde”, fruto da presença das cianobactérias, a equipa encontrou “bolsas” de anidrita, a fase desidrata da gipsita.

“A ideia de que o deserto desidrata as rochas não está correta. Na verdade, são os micróbios que desidratam a rocha”, explicou Kisailus.

As listas verdes e pegajosas que contornam a rocha são, na verdade, biofilmes – uma espécie de “cidade” de micróbios e material extracelular. Os micróbios fotossintetizantes do biofilme obtêm energia do Sol e produzem moléculas que contêm carbono, o que ajuda a manter o resto da comunidade viva.

A equipa observou que o biofilme estava cheio de ácidos orgânicos que, por sua vez, penetraram na rocha. Segundo Kisailus, este “ataque ácido” ocorreu nas bordas de cristal mais irregulares e instáveis da gipsita.

Na ausência de chuva ou orvalho, as cianobactérias extraem o máximo de água possível dos cristais de gipsita. A demonstração desta estratégia de sobrevivência pode abrir novas portas no estudo sobre a vida em Marte.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.