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Suspeito de terrorismo ouvido em tribunal (com o juiz a recusar ver os seus vídeos por não ter Internet)

José Sena Goulão / Lusa

O juiz Carlos Alexandre

O arguido Rómulo Costa, um dos oito portugueses acusados por financiamento ao terrorismo e recrutamento, adesão e apoio ao Estado Islâmico, foi interrogado, esta sexta-feira, na fase de instrução do processo que vai decorrer no tribunal de Monsanto. Uma audiência marcada pela recusa do juiz Carlos Alexandre de ver vídeos do YouTube apresentados pela sua defesa, alegando que não tinha Internet.

O advogado Lopes Guerreiro, que representa Rómulo Costa, pretendia provar que o seu cliente é produtor musical, pelo que gostava de ter mostrado os seus vídeos no YouTube ao juiz da fase de instrução. Mas Carlos Alexandre recusou abrir os vídeos “alegando que o Tribunal de Monsanto não tem serviço de Internet“, segundo o Correio da Manhã.

Rómulo Costa, de 40 anos, está acusado de três crimes de terrorismo, juntamente com outros sete portugueses da chamada “célula de Leyton”, sendo todos suspeitos de terem financiado e recrutado jovens, em Londres, para se juntarem ao Estado Islâmico na Síria.

Rómulo foi o único dos oito arguidos a estar presente em tribunal para a fase de instrução e alegou que não tem nada de terrorista e que é apenas um “cidadão comum”, como reporta o Expresso.

O advogado de Rómulo “apresentou recibos de ordenado do arguido como professor de informática numa Universidade de Londres” e cedeu uma “pen com ficheiros de YouTube com músicas, capas de álbuns e videoclipes produzidos por Rómulo, conhecido no meio musical como Romy Fansony”, além de apresentar “um áudio com um programa de rádio em que o português participou na capital londrina”, refere o semanário.

Rómulo Costa pediu a abertura de instrução, uma fase processual facultativa, e encontra-se detido preventivamente no Estabelecimento prisional de Monsanto, em Lisboa.

A investigação deste caso relacionado com financiamento e recrutamento de pessoas para o Daesh [designação em árabe do grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico] começou em Janeiro de 2013, depois de as autoridades britânicas terem comunicado a Portugal o envolvimento de dois portugueses no rapto dos jornalistas John Cantlie e Jeroen Oerlemens, na fronteira turco-síria.

Meses depois as autoridades britânicas detiveram os dois cidadãos portugueses.

Para o Ministério Público, o grupo, “imbuído do fervor jihadista, é uma ameaça real contra a segurança pública e a paz social de qualquer Estado” para onde se desloque, “sendo reconhecido internacionalmente que os combatentes daquelas organizações terroristas mataram e torturaram vítimas de forma indiscriminada, não só no conflito da Síria e do Iraque, mas como nos ataques terroristas em que participam em todo o mundo”.

É também referido que os factos investigados “além da relevância pela sua extrema gravidade, são inéditos em Portugal“.

Dois dos arguidos acusados, entre os quais Rómulo Costa, foram encontrados e interrogados em Portugal em 2019.

“Os restantes, cujo interrogatório não foi possível realizar, encontram-se em paradeiro incerto, havendo apenas a informação que um deles se encontra preso na Síria“, refere o despacho do Ministério Público (MP).

Para o MP, os arguidos aliciaram, convenceram, encaminharam e recrutaram jovens, a quem deram apoio financeiro e logístico para a sua deslocação para a Síria, através da compra de bilhetes de aviação, bens e serviços, pensões e alimentação para que estes integrassem “organizações terroristas fundamentalistas islâmicas de matriz jihadista e por elas combatessem no conflito armado” do país.

Os restantes arguidos são Nero Saraiva, Edgar Costa, Celso Costa (irmão de Rómulo Costa), Fábio Poças, Sandro Marques e Sadjo Ture.

ZAP // Lusa

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