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Há uma estrela morta a girar a alta velocidade (e a distorcer o espaço-tempo)

Um grupo internacional de investigadores estudou o sistema binário PSR J1141-6545 na constelação de Musca, composto por uma anã branca maciça orbitada por um radiopulsar, uma estrela de neutrões rotativa que emite ondas de rádio ao longo dos seus pólos magnéticos.

As observações duraram quase duas décadas e, de acordo com o estudo publicado no mês passado na revista científica Science, os investigadores conseguiram rastrear pela primeira vez a forma como a estrutura espaço-temporal é distorcida em torno de uma anã branca que gira rapidamente.

Desta forma, os cientistas conseguiram confirmar o chamado efeito Lense-Thirring (“Arrasto de referenciais”), previsto pela teoria geral da relatividade de Albert Einstein, e segundo a qual o espaço-tempo é “arrastado” pela presença de um objeto rotativo maciço. O efeito foi observado, no ano passado, no buraco negro V404 na constelação de Cygnus. Agora, os cientistas revelaram que também foram observadas curvaturas semelhantes na estrutura do espaço-tempo em torno de algumas anãs brancas.

De acordo com o astrofísico Willem van Straten, da Universidade Tecnológica de Auckland, observações do pulsar que orbita em torno desta anã branca mostraram que a sua órbita oscila cerca de 150 quilómetros de lado a cada duas décadas sob a influência de efeitos associados ao alongamento do espaço-tempo em torno desse sistema binário.

“O que descobrimos é que a órbita do sistema está a cair no espaço“, disse Vivek Venkatraman Krishnan, do Instituto Max Planck de Radioastronomia, na Alemanha, em declarações ao Space.

Descobriu-se ainda que a inclinação da órbita do pulsar está a mudar lentamente devido ao efeito previsto por Einstein por causa da rotação da anã branca. Segundo Krishnan, tudo o que está a acontecer neste sistema “alinha-se completamente com as previsões da relatividade geral”.

O sistema PSR J1141-6545 tem a peculiaridade de que a sua anã branca gira muito rapidamente em torno do seu eixo, porque nasceu do pulsar vizinho, o que permitiu “roubar” parte da matéria da estrela que gerou o pulsar. Esta velocidade de rotação ultra-rápida, a sua alta densidade e a distância extremamente pequena entre as duas partes do sistema levaram os cientistas a concluir que o efeito Lense-Thirring afeta muito a natureza do movimento do pulsar em órbita.

Medições feitas com a ajuda dos radiotelescópios UTMOST e Parks da Austrália confirmaram que a órbita do pulsar tremeu sob a influência de efeitos relativísticos. Isto não só confirma a teoria da relatividade de Einstein, mas também permitiu que os cientistas medissem com precisão as propriedades da anã branca e do pulsar, que coincidiam com os valores teoricamente previstos.

ZAP //

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