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Projeções dão vitória esmagadora de Boris Johnson

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Neil Hall / EPA

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson

O partido Conservador venceu as eleições legislativas no Reino Unido com uma maioria absoluta de 368 deputados, segundo uma sondagem comum divulgada hoje pelas três estações televisivas britânicas BBC, ITV e Sky, segundo a qual este será o pior resultado do partido Trabalhista desde 1935.

A sondagem à boca das urnas indicou que o Partido Conservador terá 368 deputados, face aos 191 mandatos assegurados pelo Partido Trabalhista– resultado que, a confirmar-se, será o pior do partido nos últimos 85 anos.

O Partido Nacionalista Escocês deverá obter 55 mandatos, e os Liberais Democratas deverão obter 13 assentos. A composição do parlamento britânico deverá ficar completa com os três deputados do partido nacionalista galês Plaid Cymru, e um único deputado dos Verdes.

Para obter uma maioria absoluta, Boris Johnson precisava de vencer em 326 das 650 circunscrições eleitorais, mas, na prática, são precisos menos deputados porque o presidente da Câmara dos Comuns não vota e os deputados do Sinn Fein têm uma longa tradição de não assumirem funções.

Cerca de 46 milhões de britânicos votaram esta quinta-feira nas eleições legislativas antecipadas no Reino Unido, as terceiras em menos de cinco anos, convocadas pelo governo para tentar desbloquear o impasse criado no parlamento pelo processo de saída do país da União Europeia (UE).

A votos estiveram os 650 assentos na Câmara dos Comuns, a câmara baixa do parlamento britânico, aos quais concorreram 3.322 candidatos, dos quais 1.124 mulheres, tendo os partidos Conservador (635), Trabalhista (631), Liberal Democrata (611), Verde (498) e Partido do Brexit (275) concorrido no maior número de circunscrições a nível nacional.

“Enorme margem política” para governar

Os resultados eleitorais no Reino Unido mostraram que os Trabalhistas pagaram um preço elevado pela ambiguidade política sobre o ‘Brexit’ e que o Conservador Boris Johnson tem agora enorme margem de manobra, segundo analistas consultados pela agência Lusa.

A ambiguidade política paga-se!”, disse à Lusa Francisco Bethencourt, historiador e professor do King’s College, em Londres, no momento em que no écran do seu computador aparecia a informação de que este tinha sido o pior resultado do partido Trabalhista desde 1935.

Paulo Vila Maior, professor de Ciência Política na Universidade Fernando Pessoa, corrobora esta perspetiva e acrescenta que a vitória do partido Conservador foi também o resultado da estratégia política de Boris Johnson.

A cartada de Boris Johnson compensou”, explicou à Lusa Paulo Vila Maior, referindo à forma como o líder Conservador foi gerindo pausas e avanços e recuos no processo do ‘Brexit’, até conseguir centrar a campanha na questão da saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e sair “muito reforçado” na sua posição de primeiro-ministro.

Os Trabalhistas nunca tiveram uma posição clara sobre o ‘Brexit’”, conclui Francisco Bethencourt, salientando a profunda divisão que o tema provocou na sociedade britânica e considerando que os eleitores preferiram posições assertivas.

andymiah / Flickr

Derrota histórica para o líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn

O historiador, detentor da cátedra Charles Boxer do King’s College, realça a margem de manobra política que esta vitória dará a Boris Johnson, com um dos melhores resultados do seu partido e na véspera da data-limite para a saída da UE.

Agora, ele pode fazer o que quiser! Boris ficou com enorme margem política”, afirma Bethencourt, para logo acrescentar o reverso da medalha desta situação, pois “agora já não há mais desculpas” para qualquer falhanço na estratégia de abandono da UE.

Libra valoriza-se com projeções

A libra esterlina valorizou-se contra o euro e o dólar, logo que foi anunciada uma projeção dos resultados das eleições de hoje. Cerca das 22:03 locais (mesma hora em Lisboa), a libra subiu 1,94% face ao dólar, cotando-se a 1,3416 por um dólar, e 1,58% relativamente ao euro, a 83,25 pence por um euro.

O facto de a libra ter valorizado contra o euro e o dólar, logo que foi anunciada uma previsão de vitória do partido Conservador, não espanta nenhum dos analistas, que olham para a reação dos mercados como um sinal de aprovação aos sinais de estabilidade política que a maioria confortável de Boris Johnson pode trazer.

Contudo, Paulo Vila Maior alerta para a possibilidade de esta valorização da moeda britânica poder ser momentânea. “Vamos ver se não foi apenas uma reação instintiva. Vamos ver se daqui a uns dias não volta para os valores prévios à eleição”, avisa o cientista político, que fez o doutoramento na Universidade de Sussex. Paulo Vila Maior considera também que este resultado não terá grande impacto em Bruxelas.

“Sinceramente, julgo que o resultado é indiferente para os dirigentes da UE”, explica, acrescentando que a comunidade está mais confortável do que o Reino Unido, “que foi quem começou todo o processo”.

Saída da UE é processo imprevisível

Ambos os analistas consultados pela Lusa acreditam que a saída da União Europeia é um processo imprevisível, mas não necessariamente catastrófico. “A data de saída é 31 de janeiro… até ver”, diz Paulo Vila Maior, dizendo esperar que haja bom senso na forma como o futuro das relações entre Reino Unido e Europa será gerido. “Não tem de ser necessariamente catastrófico”, concorda Francisco Bethencourt.

Os dois analistas concordam ainda no impacto que terá um esperado reforço do Partido Nacional Escocês, que as previsões à saída das urnas apontam como um dos vencedores da noite eleitoral, prevendo um aumento de tensões independentistas.

“Esse crescimento vai reforçar as pretensões independentistas dos escoceses”, considera Bethencourt, em linha com Vila Maior, que recorda a vitória dos eleitores da Escócia que preferiam a permanência na União Europeia.

Sobre o futuro político dos dois principais candidatos a primeiro-ministro, Bethencourt diz que Boris Johnson conseguir reformular todo o partido Conservador, ficando com carta branca para gerir a governação, e acredita que Corbyn se poderá manter à frente do partido Trabalhista. “Ele tem o apoio dos movimentos que são muito ativos e eficazes nas redes sociais”, diz o historiador.

Paulo Vila Maior tem mais dúvidas sobre o futuro dos Trabalhistas, considerando que Jeremy Corbyn falhou “rotundamente” na tentativa de colocar as questões de política interna na agenda eleitoral e que pagou um preço muito elevado.

Costa espera enfim “Brexit ordenado”

O primeiro-ministro português, António Costa, disse esperar que o novo parlamento britânico saído das eleições legislativas de quinta-feira aprove finalmente o Acordo de Saída do Reino Unido da União Europeia, garantindo assim um ‘Brexit ordenado.

Mário Cruz / Lusa

O primeiro-ministro, António Costa

À saída do primeiro dia de trabalhos do Conselho Europeu, em Bruxelas, concluído já de madrugada, Costa comentou que “com toda a probabilidade vai haver uma maioria no parlamento britânico que possa aprovar o último acordo” negociado com Londres.

Ressalvando que é necessário “aguardar pelos resultados finais para ver se confirmam estas previsões à boca das urnas”, o primeiro-ministro comentou que, se tal for o caso, isso “permitirá assegurar algo que era fundamental: é que, havendo ‘Brexit’, que seja um ‘Brexit’ ordenado, devidamente acordado, e, portanto, que todos os cenários negativos que se tinham perspetivado de um ‘Brexit’ caótico possam ser evitados”.

Questionado sobre se o desfecho das eleições de hoje é de certa forma um «alívio», António Costa reforçou que, “tendo que haver ‘Brexit’, ser um ‘Brexit’ devidamente negociado, acordado, preparado, claro que é um alívio, porque as consequências, quer para os direitos dos cidadãos, quer para as empresa seriam extremamente negativos”, pelo que a aprovação do Acordo de Saída “obviamente que é uma boa notícia”.

“Vamos ver se o novo parlamento aprova finalmente o acordo”, disse, recordando que “este já é o quarto acordo que a UE negoceia com o Reino Unido”, e desta feita com aquele que terá sido o grande vencedor das eleições no Reino Unido, Boris Johnson. “Portanto, espero que à quarta seja de vez”, concluiu.

ZAP // Lusa

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