O jornalista e escritor curdo-iraniano Behrouz Boochani, que estava detido há seis anos num centro de imigrantes na Austrália, conquistou a liberdade.
Boochani escreveu, através de mensagens da rede social Whatsapp, o livro “No Friend But the Mountains: Writing from Manus Prison” (“Sem amigos, apenas as montanhas: Escrevendo a partir da prisão de Manus”, em tradução livre), onde deu voz aos milhares de migrantes nas ilhas-prisão do Pacífico Sul.
A obra, que retrata a experiência do jornalista e ativista defensor dos direitos humanos no centro para imigrantes que a Austrália tem em Manus – onde aguarda ser recebido por outro país – é descrito pelo júri como um testemunho da resistência.
Um convite para participar num festival literário na Nova Zelândia foi o seu bilhete para a liberdade. O voo só foi possível depois de meses de negociações com as autoridades australianas, debaixo de uma grande pressão internacional.
“Quando cheguei a Auckland foi muito estranho, porque pela primeira vez olhei para Manus à distância”, disse a um jornalista do The Guardian. “Lá eu pensava sobretudo em sobreviver. Hoje estou feliz por ter sobrevivido.”
Boochani aterrou em Auckland com um visto de um mês, mas, contando com o apoio das Nações Unidas e da Amnistia Internacional, só sairá daquele país para outro onde lhe possa ser concedido asilo político.
A situação em que este refugiado se encontrava há mais de seis anos ganhou exposição quando ganhou, em janeiro deste ano, o maior prémio literário da Austrália O editor que o publicou, em julho de 2018, recebeu o manuscrito em fragmentos, por mensagens de WhatsApp. Com o mesmo livro, Behrouz Boochani recebeu em fevereiro o Prémio Literário Premier da Austrália, na categoria de não ficção, organizado pelo The Weeler Centre.
O jornalista está detido desde 2013, altura em que chegou à Austrália como requerente de asilo o que, até agora, não lhe foi concedido. A viagem de barco entre a Indonésia e a Austrália não correu como planeado e foi detido por tentar entrar sem visto.
A lei de imigração do país dita que quem tentar chegar à Austrália por barco em busca de asilo é detido e levado para um campo fora do país – dizem que desta forma evitam as mortes no mar às mãos de traficantes. Atualmente, o jornalista está em Manu Island, na Papua Nova Guiné, há pelo menos seis anos, juntamente com outros 600 refugiados.
O centro de detenção de Manus encerrou em 2017, mas Boochani faz parte de um grupo de 600 homens que permanecem na ilha em campos de refugiados sem poder ir à Austrália, que recusa acolher os imigrantes que tentam entrar no país por via marítima.
Em 2012, a Austrália retomou a sua política de detenção dos “indocumentados” noutros países, em condições que têm sido denunciadas por organismos internacionais, entre eles a ONU.