O Governo do Chile anulou esta segunda-feira o aumento do preço dos bilhetes do metropolitano, depois de a medida ter provocado violentos protestos que se generalizaram no país.
Esta terça-feira, com apenas uma linha do metro em circulação, os bilhetes voltam a custar ao público 800 pesos, o equivalente a um euro, o mesmo valor praticado antes do aumento de 30 pesos a 6 de outubro.
A medida surge depois de o Senado chileno ter aprovado, na segunda-feira, um projeto de lei que visava congelar o aumento das tarifas no transporte público de passageiros. O projeto foi submetido ao Senado pelo Presidente chileno, Sebastián Piñera, com o objetivo de acalmar a raiva da população, que agora se manifesta contra a profunda desigualdade da sociedade chilena e exige reformas mais profundas.
Neste sentido, Sebastián Piñera já anunciou que vai reunir-se esta terça-feira com todos os partidos políticos para debater pensões, os preços dos medicamentos e a melhoria dos cuidados de saúde.
Apesar de ter origem no aumento do metro na capital, o protesto social no Chile espalhou-se rapidamente para diversas cidades do país, com distúrbios violentos que já resultaram em pelo menos 13 mortos.
O general de divisão do Exército chileno Javier Iturriaga, responsável da segurança durante o estado de emergência decretado na capital do Chile, chegou a estabelecer o terceiro recolher obrigatório em Santiago e na região metropolitana, perante a continuação dos distúrbios. “Cheguei à convicção de que precisamos de um novo recolher obrigatório”, disse o militar, em declarações públicas. O recolher obrigatório estaria em vigor entre as 20h horas locais (24h de Lisboa) até às 6h (10h de Lisboa).
Na noite de sábado para domingo, duas pessoas foram mortas e uma ficou gravemente ferida, num incêndio de um supermercado, em San Bernardo, uma zona sul da capital. Outras duas foram igualmente feridas por disparos e hospitalizadas em estado “grave”, após um incidente com a polícia durante pilhagens, igualmente a sul da capital.
No domingo, os contestatários, de cara coberta com capuzes, envolveram-se em violentos confrontos com polícias na praça Itália, no centro da capital. As forças da ordem responderam com gás lacrimogéneo e jatos de água.
Após três dias de violência, os centros da capital chilena e de outras cidades, como Valparaíso e Concepción, registavam um cenário de desolação, incluindo autocarros incendiados e lojas destruídas. Dezenas de supermercados, veículos e estações de serviço foram saqueados ou incendiados.
O Governo contabilizou estragos em 78 estações de metro, algumas totalmente destruídas. Os prejuízos no metro foram avaliados em mais de 300 milhões de dólares (268 milhões de euros) e o regresso à normalidade em certos percursos deverá prolongar-se “por meses”, considerou Louis de Grange, presidente da Companhia nacional de transportes públicos.
No aeroporto de Santiago foram cancelados ou reprogramados numerosos voos, também devido às dificuldades dos trabalhadores em garantir meios de transporte.
Os estudantes apelaram a novas manifestações na segunda-feira. Através de palavras de ordem como “Fim aos abusos” ou “O Chile levantou-se”, difundidas nas redes sociais, o país enfrenta uma das piores crises sociais.
O Presidente chileno disse entender que os cidadãos se manifestem sobre aquilo que os preocupa, mas classificou de “verdadeiros criminosos” os responsáveis pelos incêndios, barricadas e pilhagens. Segundo um balanço das autoridades, foram detidas pelo menos 716 pessoas.
O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, apelou a todos os setores da sociedade chilena para que reduzam a tensão, recusem atos de violência e procurem soluções pacíficas para os problemas que redundaram nas manifestações dos últimos dias.
ZAP // Lusa