O tenor espanhol, alvo de várias denúncias de assédio sexual, abandonou a produção “Macbeth”, da Ópera Metropolitana de Nova Iorque, que deveria estrear-se esta quarta-feira, anunciando que não voltará a pisar o palco da Met.
“Enquanto contesto fortemente as recentes alegações feitas a meu respeito, e estou preocupado com o clima em que as pessoas são condenadas sem decorrer o devido processo, após reflexão acredito que a minha presença nesta produção de Macbeth iria desviar as atenções do trabalho árduo dos meus colegas, tanto em palco como nos bastidores”, refere Plácido Domingo num comunicado citado pelo New York Times.
Resultado dessa reflexão, o tenor espanhol “pediu para abandonar a produção”, agradecendo à liderança da Met “por ter graciosamente acedido” ao pedido.
No comunicado, no qual recorda que se estreou naquele teatro aos 27 anos e no qual cantou “durante 51, consecutivos, gloriosos anos”, Plácido Domingo diz-se “feliz” por, aos 78 anos, ter podido vestir a pele de Macbeth no ensaio geral da produção, algo que considera a sua “última atuação no palco da Met”, indicando assim que não irá voltar a pisar o palco daquele teatro nova-iorquino.
A Ópera Metropolitana de Nova Iorque também divulgou um comunicado, no qual sugere que foi a companhia a pedir a Plácido Domingo para sair.
“A Ópera Metropolitana confirma que Plácido Domingo concordou em retirar-se de todas as futuras apresentações na Met, com efeito imediato. A Met e o senhor Domingo estão de acordo que ele precisava de retirar-se”, lê-se no comunicado, também citado pelo jornal norte-americano.
A programação da Ópera Metropolitana — que em 2018 despediu o maestro James Levine depois de ter sido acusado de conduta sexual abusiva e de assédio — para a presente temporada incluía atuações de Plácido Domingo numa produção de “Madame Butterfly”, em novembro, e enquanto “Macbeth”, na ópera homónima de Verdi, em setembro e outubro.
A Ópera de Los Angeles anunciou em agosto a abertura de uma investigação na sequência de denúncias, de oito cantoras e de uma bailarina, de assédio sexual por parte do tenor espanhol, em situações ocorridas ao longo de mais de três décadas.
A Ópera de Los Angeles, onde Domingo é diretor-geral, anunciou que iria contratar uma equipa legal externa para investigar as “preocupantes alegações” contra o tenor.
A Associated Press publicou no mês passado uma longa investigação, com quase 50 pessoas entrevistadas a confirmarem comportamentos impróprios por parte de Plácido Domingo.
Desde a publicação da investigação, a Orquestra de Filadélfia e a Ópera de São Francisco anunciaram os cancelamentos das atuações programadas do tenor, enquanto o Festival de Salzburgo, na Áustria, decidiu manter os concertos previstos, tendo a presidente do evento, Helga Rabl-Stadler, sublinhado o “tratamento apreciativo [de Domingo] para com todos os funcionários do festival”.
Seis outras mulheres relataram à AP avanços que lhes causaram desconforto, em particular uma cantora que Plácido Domingo repetidamente convidou para sair, depois de a ter contratado para uma série de concertos na década de 1990.
Adicionalmente, quase 30 outras pessoas ligadas à indústria musical, desde cantoras a músicos de orquestra, passando por professores de canto e administradores, confirmaram ter testemunhado comportamentos impróprios de índole sexual por parte do cantor espanhol.
Das nove pessoas que acusam o cantor, apenas a meio soprano Patricia Wulf aceitou divulgar o seu nome, tendo as restantes pedido anonimato por temerem represálias profissionais e pessoais.
Sete das nove mulheres disseram acreditar que as carreiras sofreram por terem rejeitado os avanços sexuais de Plácido Domingo.
// Lusa